O TÍPICO ROCEIRO

O TÍPICO ROCEIRO

Carlos Roberto Martins de Souza

O matuto lá do campo era gente fina

Se vestia a caráter para sua dura lida

Imponente resolvido para a sua rotina

Trabalhar de sol a sol era a sua vida

Naquele duro sertão de terra rachada

No tempo de sequidão só poeira no ar

A viagem dele era da casa pro roçada

A mulher magra sofredora daquele lar

O matuto só se sente à vontade na lida

No seu tempo de folga da sua labuta

Porque o seu trabalho é a luta pela vida

Não é voluntário é imposto como luta

Acordar cedo comer uma broa de milho

Tomar bom café feito no coador de pano

Com leite quentinho e biscoito de polvilho

Ir à luta na roça como matuto soberano

Preparar a bóia e um pedaço de carne

Arroz e feijão não podia faltar na marmita

O tempero gostoso da comida o charme

Seu uniforme fazia dele uma vida bonita

A calça de casimira cheia de remendos

Parceira antiga daquela camisa xadrez

Aquele bigodinho e cabelo estupendos

O cabelo cortado Príncipe Danilo francês

Na cabeça o companheiro inseparável

Quelé chapéu de palha do sol protetor

O chulé da bota Vulcabras insuportável

O embornal velho de lona do seu labor

A moringa com água não podia faltar

A caneca esmaltada também levava

O canivete corneta para o fumo cortar

Fazer o cigarro de palha e fumava

O isqueiro Laci Latonado era dourado

O radinho era de pilha Spika importado

Com o dedão calejado o botão rodava

A lamparina de querosene era o achado

O velho facão pendurado na cintura

Não esquecia o bom chicote de couro

A caixinha de rapé pois a lida era dura

O que nela levava valia preço de ouro

A Navalha era indispensável na barba

Aquele pente de osso deixa o cabelo

Lambuzado de brilhantina sem rebarba

Ele faz questão de mostrar que tem zelo

O velho Trim para a unha sua ele cortar

O antigo fogão de lenha lá na cozinha

A espingarda de um cano para ele matar

A caça do dia levar e fazer a comidinha

O pedaço de fumo de rolo tem serventia

O cigarro de palha na orelha pendurado

A sua marmita inseparável que ele trazia

O belo relógio de bolso Lanco era amado

O pesado machado na lenha era usado

Aqui é muito legal aqui respiro felicidade

Aqui é beleza ave que canto lá no cerrado

Não troco a roca pelo conforto da cidade

O vento seco que sopra pela campina

O burro que socorre ele não descança

O cachorro costela é aquela coisa fina

No roçado não morre é só a esperança

O seu vilarejo é uma sublime beleza

Mas a seca na estiagem ainda racha

Aí do Deus na sua enorme grandeza

No lamento na dor passa a borracha

De quem protege é a nobre natureza

Vai ter sempre a resposta ao gênio

Nunca vai faltar a ele na sua mesa

Nem que seja uma bolacha de prêmio

Um dia virá e o trabalhador artista será

Senão pela sua dedicação ao campo

Mas pelo menos ter no peito o crachá

De herói da terra um nobre pirilampo

Ao mestre do campo com carinho dedico

Estes singelos versos esta minha prosa

Neste momento neste momento fatídico

É minha pequena homenagem carinhosa

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 12/03/2021
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