Ladeira
Nasci menina, cresci moça
Tornei-me mulher…
Com duplo dáblio, com eme, eme
Com feitos bravos, de chocolate
Que adoçam os dias azedos
Nos quais me torturam os medos
Das lembranças de um futuro
Brilhante, tão perto… distante
Atrás deste e de outro muro
Logo ali adiante...
Sou qual amazona guerreira
Agarro, da vida, na crina
Brinco, mas não de brincadeira
Por vezes adoeço
Mas sou minha própria vacina
Sei o que mereço
Subo diariamente a ladeira
Não aceito triste sina…
Vivo o que me dá hoje a vida
Escolho meu caminho
Também sou por ele escolhida
Em dia nublado e de chuva
Abro meu estampado guarda-sol
Da macieira colho uva
Transformo inglês em espanhol
Sou a melhor que conheço
Não é ufanismo, é realidade
Se me conheces sabe que mereço
E que não é apenas vaidade
Mesmo que por vezes
Minha visão seja turvada
Por dias, até meses
E eu me perca na estrada
Sempre volto ao topo da ladeira
Pois de lá vejo com clareza
A roda girando a vida inteira
E embeveço-me nessa beleza…
Não me troco por garotinhas
De dezoito ou de vinte
Pois, por mais que a vida pinte
Mechas alvas em negro manto
Tenho todo este encanto
De gavião e passarinha.
Sou eu mesma...
Sem definição exata
Mistura de louca e sensata
Tornado e calmaria
Joana D'arc e também Maria
Noite que brilha de dia
Quem sou?
Prazer… G. Garcia!
Texto que escrevi para a amiga G. Garcia (alguém que parece estar sempre a dois passos do paraíso) em seu trigésimo oitavo aniversário.