A Lupicinio
A LUPICÍNIO
Seus amores fracassados
E sentimentos traídos,
Foram os temas trabalhados
E quase sempre escolhidos.
Autor de tantos sucessos,
Numa fértil geração,
Soltava com a sua voz,
As dores do coração.
Chico Alves, Noel Rosa,
Grandes astros do momento,
Notaram o valor da prosa,
Do gaúcho, o sentimento.
O boêmio inveterado,
Compunha sambas-canção,
No violão, dedilhado,
Apertado ao coração.
Falar-se de Lupicínio,
Não é uma “Triste História”,
É sim, ter-se o tirocínio,
Da herança meritória.
Quem quiser reconhecer,
A grandeza desse homem,
“Pergunte aos meus tamancos”,
Cujas saudades consomem.
Se, em suas letras citou,
O nome “Maria Rosa”,
Por certo ele acreditou,
Noutra jura mentirosa.
Entre os copos de cerveja,
Gelados, nas madrugadas,
Servidos numa bandeja,
Cantou novas, namoradas.
Pela vida, apaixonado,
Ao ver “Cadeira vazia”,
Por muita saudade, tomado,
Nova canção fazia.
“Nunca” sentiu-se irado,
Pelas perdas amorosas,
Mas de sofrer, já cansado,
Demonstrou em suas trovas.
“Felicidade”, quem dera!
Era a mais forte esperança,
Na derrota ou grande espera,
Jamais pensou em “Vingança”.
Certa vez numa canção,
Pra “Esses moços”, falou:
Ponham a paz no coração,
E o perdão pra quem errou.
Pra ser homem nessa vida,
Na traição ou fracasso,
Curem do peito a ferida,
Mantenham os “Nervos de aço”.
Mas se foi, não tem mais “Volta”,
E esta vida é mesmo assim,
E sinto ungir-me a revolta,
Saudade sobrou pra mim.
“Se acaso você chegasse”,
Se acaso você cantasse,
Se acaso você voltasse,
Se acaso até escutasse,
Seu plangente violão,
Entenderia que Deus,
Entre a prima e o bordão,
Dirigia os dedos teus.
Pois nem era “Primavera”
E florescia a melodia,
Resultante de quimera,
Do coração que ardia.
Hoje canta lá no céu,
Paraíso divinal,
Não sofre mais, no papel,
Do mundo, como mortal.