DESEJO-TE
DESEJO-TE
De pés descalços na lama
Na curva dorida do cotovelo
Nas fivelas que me prendem a alma
Na ponta solta de um novelo.
Desejo-te no tremor ingénuo das mãos
Nas madeixas esbranquiçadas do cabelo
No corpo gasto e cansado
Nos olhos míopes do coração.
Desejo-te
Nas horas negras da vida
Num frenesim que enlouquece
Enquanto um rochedo aquece
E o ventre de amor estremece.
Desejo-te
Entre acrósticos e enigmas
Anjos e demónios
Perigos e dilemas
Caprichos e pecados
Na polida dicção de poemas
Desejo-te
No arrastar da dor e da razão
Sem ordem nem permissão
Poeta mirrada que sou
Louca e alucinada
Na vida sempre atrasada
Nos loureiros perfumados e verdes
Nas metáforas violentas
Nos versos que morrem nos dedos
Nos torpes abraços e beijos
Desejo-te
E vou sacudindo o frio
Nas onduladas labaredas
No coração da fogueira
Morro órfã de amor
Renasço nas cinzas do teu calor.
Maria Tecina
Natal 11 de junho 2020