O CEMITÉRIO DE ROSAS NEGRAS DA SIBÉRIA
Naquele vale em suave declive
entre sicômoros e carvalhos
Crescem belas rosas negras
Onde há em suas pétalas
manchas de lágrimas dissecadas
Dizem ter existido ali
O Antigo cemitério de Dresden
Como uma velha senhora agonizante
Cujos filhos foram sepultados,
Junto com suas mães inconformadas,
e suas esperanças mutiladas
Pelo anjo negro da intolerância
e sua balança “eqüitativa ”
com pesos enchidos de covardia,
e duma prepotência totalitária
Podaram-se os rebentos matriarcais
Não vi correr por esses gélidos campos
A pequena Godveliskaia , e seu sorriso efusivo
fácil e cativante, tão generoso em sua mãe
não vi caçar por esses vales
o pequeno Adriansakov
e a mesma intensidade e disciplina
de seu pai com sua coragem
de um visionário Cosaco
por uma Russia soberana
Jamais verei as crianças
de Teofilia Serova, Angelina Vitalitherbo,
Ilena Tsvenikova,
Vera Petrova, Selena Padkopaieva,
Mamães levadas em trens transbordantes,
e suas mãos ejetadas em desespero
produzindo um espetáculo
de acenos suplicantes,
Jamais verei os novos irmãos de Karamazov
As lindas bisnetas de Anna Karienina,
O filho bastardo de Raskolnikov
Todos ceifados pelo lépido e voraz
anjo negro da intolerância
e sua balança “eqüitativa” ,
com pesos enchidos de covardia,
e duma prepotência totalitária
A voar num céu de mares de chumbo
Onde gritos de inocentes reboam,
num silêncio insuportável
nos confins de uma Sibéria ,
e sua convalescença incurável
Naquele vale em suave declive,
No antigo cemitério de Dresden
Vejo uma anciã de fronte vincada
Sombria , encapuzada,
Por fina garoa engolfada
A segurar firme,
numa oração balbuciante,
uma esquálida rosa negra
Por suas lágrimas dissecada,
E numa lápide ilegível e disforme
Tem suas pétalas derramadas.
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