O CEMITÉRIO DE ROSAS NEGRAS DA SIBÉRIA

Naquele vale em suave declive

entre sicômoros e carvalhos

Crescem belas rosas negras

Onde há em suas pétalas

manchas de lágrimas dissecadas

Dizem ter existido ali

O Antigo cemitério de Dresden

Como uma velha senhora agonizante

Cujos filhos foram sepultados,

Junto com suas mães inconformadas,

e suas esperanças mutiladas

Pelo anjo negro da intolerância

e sua balança “eqüitativa ”

com pesos enchidos de covardia,

e duma prepotência totalitária

Podaram-se os rebentos matriarcais

Não vi correr por esses gélidos campos

A pequena Godveliskaia , e seu sorriso efusivo

fácil e cativante, tão generoso em sua mãe

não vi caçar por esses vales

o pequeno Adriansakov

e a mesma intensidade e disciplina

de seu pai com sua coragem

de um visionário Cosaco

por uma Russia soberana

Jamais verei as crianças

de Teofilia Serova, Angelina Vitalitherbo,

Ilena Tsvenikova,

Vera Petrova, Selena Padkopaieva,

Mamães levadas em trens transbordantes,

e suas mãos ejetadas em desespero

produzindo um espetáculo

de acenos suplicantes,

Jamais verei os novos irmãos de Karamazov

As lindas bisnetas de Anna Karienina,

O filho bastardo de Raskolnikov

Todos ceifados pelo lépido e voraz

anjo negro da intolerância

e sua balança “eqüitativa” ,

com pesos enchidos de covardia,

e duma prepotência totalitária

A voar num céu de mares de chumbo

Onde gritos de inocentes reboam,

num silêncio insuportável

nos confins de uma Sibéria ,

e sua convalescença incurável

Naquele vale em suave declive,

No antigo cemitério de Dresden

Vejo uma anciã de fronte vincada

Sombria , encapuzada,

Por fina garoa engolfada

A segurar firme,

numa oração balbuciante,

uma esquálida rosa negra

Por suas lágrimas dissecada,

E numa lápide ilegível e disforme

Tem suas pétalas derramadas.

poesiasegirassois.blogspot.co

Davi Cartes Alves
Enviado por Davi Cartes Alves em 15/10/2007
Reeditado em 03/02/2008
Código do texto: T695432
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