Meu amado Guamá

O rio que chove em mim

Meu querido Guamá

Asilo dos excluídos

De Belém do Grão-Pará.

Desde o início de sua história

Doença, preconceito e exclusão

Fazem parte da memória

De sua carente população.

De fazenda Tucunduba

À “Hospício dos Lázaros”

Abrigou loucos e leprosos

Em sua maioria ex-escravos.

Lócus dos infectocontagiosos

De todo o “lixo social”

Do cemitério Santa Isabel

Fundado para afastar das elites o mal.

São parte de seu cotidiano

A criminalidade e a violência

A produção de conhecimento

A fé, a cultura e a resistência.

Bairro onde passei

Parte de minha existência

Fiz bons amigos, me formei

E tive belas experiências.

O rio que chove em mim

Meu amado Guamá

Tenho orgulho em dizer:

Minhas raízes estão lá.

Em: 15.04.2020

Poema dedicado ao bairro onde vivi por mais de 30 anos, o qual está situado às margens do rio Guamá ("rio que chove") e foi fundado a partir de um asilo de loucos e hansenianos, de ex-escravos, indígenas, ribeirinhos e retirantes. Hoje, o mais populoso de Belém-Pará, um dos mais carentes e violentos. Porém, onde estão situados: a Universidade Federal do Pará (um dos maiores centros de produção de ciência e conhecimento); o hospital referência em doenças infectocontagiosas, João de Barros Barreto; um dos mais antigos cemitérios da cidade, o Santa Isabel; e uma das mais tradicionais escolas de samba, a Bole-Bole. Além disso, é um bairro que nutre grande devoção a Santo Antônio, padroeiro dos doentes, dos viajantes, dos amputados, dos pobres e oprimidos.

Adriane dos Santos
Enviado por Adriane dos Santos em 16/04/2020
Reeditado em 19/05/2020
Código do texto: T6918732
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