AO MESTRE

Para Geraldo Faria Campos (agora in memoriam)

Nos conhecemos nessa vida

Por volta de 1993

Estava eu e mais minha turma

Esperando a aula de português

Logo no início

Nos perguntou

Como que até agora a vida se passou

Olhávamos atentos pra esse momento

Nossa como era alto

Minhas irmãs já tinham

Me falado, mas Nossa como era alto

Vendo-o ali de perto

Uns lhe chamavam de Alemão

Não sei se com permissão

Só sei do sorriso

Que em teu rosto encontrava abrigo

“Pessoal como foi chegar aqui hoje

No Colégio de Aplicação?

Como é Cursar a 6a série?

Agora estão grandes o bastante

Para estudarem de manhã? “

Bom, deve ter sido isto

Que chegou ao ouvido

Naquela manhã, e o que chegou ao coração?

Chegou uma ânsia de ser

De compartilhar e conhecer

Foi então que disse:

“Professor hoje o dia estava escuro

Tinha estrela no céu e tava frio”

Era o que me assombrou

Diante do mundo, com o horário de verão

Aquela primeira aula rompendo a aurora

Vencia a escuridão

Vencer a escuridão parece ser sua

Atividade preferida

Ensinar com alegria sua sina

Nossa como fez sentido tudo isso!

Um filósofo, pai, amigo...

Dizem que lutar com palavras

É a melhor luta, porém a mais frágil

Não sei se lutar é o que nos faz amar

Mas sei Mestre que amar já é lutar

Que maravilhoso seria

Se não nos entregássemos ao canto da sereia

Que nos leva pro fundo do Mar

Aliás Goianos e Mar formam um

Encontro magnífico

Um traz consigo o cerrado

Que cerra a cerração

O outro o embalo da vida em canção

Foi um ótimo ano

Foi ótimo ser tratado como humano

E aprender a tratar o outro

Com respeito foi logo cedo

Talvez a maior lição

Não houve comiseração

Pois em nenhum momento

Fizemos o dessecamento da língua

Nisso chamado, análise sintática

Nós líamos e escrevíamos com mágica

Aquele ano de 93 passou

E foi triste na 7a série não encontrar o senhor

No entanto sabíamos que era só uma

Questão de tempo e em 95

Teríamos de volta aqueles ventos

A sétima série foi legal

O professor Enoch era chamado

De Gargamel, aquele dos Smorfs

Já era um apelido tradicional

E a professora de português

Por ser baixinha era chamada

De Mestre dos Magos, aquele da Caverna do Dragão

O que parece desrespeito

Era desrespeito mas algo mais

Era um jeito de sentir emoção

E foi entre 93 e 95 que morreu um amigão

Até falei com o senhor que durante

Uma aula me interpelou

Jurandir Jr. Foi o nome do meu amigo

Mas todos o chamavam de Jurubeba

Andávamos de bicicleta

Jogávamos vídeo-game, futebol

Era tudo muito bom

Tinha o lance da arte marcial

Na 8a as coisas andavam diferentes

Rolou naquele ano o impeachment do presidente

Cidadania, com quem está o condão da fada madrinha?

Líamos e escrevíamos

E entre ler e escrever

O diálogo não ficava por merecer

Eu que sempre fui devagar

Com a leitura lhe contava

Qualquer aventura

Mas, o Eduíno Jr., nosso amigo

Um dia lhe escreveu um conto

Que era do filme “The Wall”

Só que isso não faz mal

Um mestre como o senhor

Consegue ser doutor

da linguagem sideral

Como o mundo gira

Agora neste instante

Estou em Araraquara

E cursando faculdade de Letras

E se pareço ou não poeta

Não importa pois as portas

Da minha alma estão abertas

Ao meu querido professor.