DONA DE CASA
Entre um verso e outro,
vou estendendo
as roupas no varal.
Ponho também
os meus sentimentos
a corar ao sol.
Com rimas,
tempero para dois
o feijão,
o bife e o arroz.
A sobremesa
em poetrix
vem depois.
Em precisão metrificada,
espano, esfrego, limpo e varro,
mesa, banheiro e escada,
trova de flores vai pro jarro.
No jantar, sirvo um rondel
de ovos estrelados
brincando no prato um gostinho de céu.
Anoiteço em expectativas
de duetos e cirandas
em lençóis perfumados de promessas
e juras de amor eterno.
Adormeço num poema moderno,
abraçando sonhos solitários,
feito em versos – nada perfeitos –
de um marido quase alexandrino.
Solitária, acordo para um novo dia,
para sempre exilada e condenada à própria sorte
nos territórios dessa casa da poesia.
(José de Castro, poema dedicado a todas as mulheres que se esmeram na arte de cuidar da casa da poesia)