Desvanecida linha azul
Para Anne Tyler.
Você mentiu para mim, Anne.
Confiei em você
como o dia confia no sol
para romper o véu da noite,
como o capitão confia no faroleiro
do atol solitário,
confiei como a gaivota no alto do mastro
mira seu mergulho faminto e suicida;
o que recebi?
Traminhas e dramins.
Você mentiu para mim, Anne.
Disse que a vida pode ser muita coisa
(isso eu já sabia) e depois trouxe vidas
iguais a de qualquer cachorro molambento
de Tortuga (estou cansado de catar pulgas).
A banca policial e a matilha do Politzer
podem ser espertas e de discernimento
intelectual elevado,
mas eu não sou otário, Anne, não mesmo
e minha mãe não gestou nenhum otário:
sabes o que escreveu e eu sei o que li.
Você disse que entregaria angústias,
tragédias, emoções traídas,
flagelos cotidianos mais alarmados
que o soar das sete trombetas
e o que recebi?
Nada além de draminhas e dramins.
No fim das contas o longo e atribulado
carretel de linha azul
era um carretel como qualquer outro
até menos que qualquer outro,
e o que restou foi um emaranhado
de linha desvanecida sob meu vômito
e sua face vista em nuances atordoados
na batalha de suas mentiras
entre dia e noite.