Os olhos de Anne Sexton
Eu tinha acabado de secar uma garrafa
do melhor vinho barato que um arrombado
pode pagar e estava de rolê na Net.
Pulava de vídeo a blog,
como um macaquito bêbado de galho
em galho,
até encontrar um vídeo com seus olhos
dominadores
seus lábios, sua voz
a recitar aqueles poemas de amor
solidão e morte.
Não precisava entender muito
bastava ficar ali, escutar, ver, sentir
contemplar sua beleza com o brilho
assustador da morte à espreita.
Não foi paixão de um bêbado
foi a devoção espiritual à qual
minha alma atormentada nasceu
em débito.
Com você encontrei meu significado
de estar e escrever, a luz que minha noite
sempre buscou e foi iludida por tanta
vela trêmula em salas aconchegantes.
Depois de mirar seus olhos dominadores
e penetrantes como os de uma pantera
que medra o ataque,
minha vida nunca mais foi a mesma
e, graças à luz da animália enjaulada,
não mudou muito.