O homem duplicado

As aranhas que cercam minha vida

sou refém de sua anatomia

preso em suas teias, sem saída

desenvolvendo minha aracnofobia.

Me divido tentando escapar

projetando um idêntico que não sou eu

as coisas começam a se embaralhar

e o que era muito Claro, afunda em breu.

A rainha das aranhas invade a cidade

Com suas patas esguias com 20 metros de altura

Horripilante em sua enormidade

Um exemplo de maternidade, assustadora criatura.

Minha esquizofrenia em projeção

Pouco a pouco vai fazendo sentido

São reflexos da minha traição

Descontroles da minha libido.

Os eventos se repetem duas vezes na história

Um fogo que não queima a sarça

Uma corrupção que afeta a memória

Primeiro a tragédia, depois a farça.

Eu escolho matar o que se liberta da teia

e me entregar de vez a submissão

mas é só contemplar a porta aberta da cadeia

que aproveito pra perverter mais uma vez minha relação.

Eu sou o pior dos dois que criei

a única coisa que matei foi a inocência

a redenção estava ao alcance mas abandonei

e agora, é viver com a consequência.

Mantenho-a refém nessa cúpula

Como uma triste fábula

Onde se retrai apavorada figura

No quarto, enorme tarântula.

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Baseado no livro o homem duplicado de José Saramago com citações de Hegel e Marx.

Gabriell Araujo
Enviado por Gabriell Araujo em 06/12/2019
Reeditado em 06/12/2019
Código do texto: T6812106
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