O homem duplicado
As aranhas que cercam minha vida
sou refém de sua anatomia
preso em suas teias, sem saída
desenvolvendo minha aracnofobia.
Me divido tentando escapar
projetando um idêntico que não sou eu
as coisas começam a se embaralhar
e o que era muito Claro, afunda em breu.
A rainha das aranhas invade a cidade
Com suas patas esguias com 20 metros de altura
Horripilante em sua enormidade
Um exemplo de maternidade, assustadora criatura.
Minha esquizofrenia em projeção
Pouco a pouco vai fazendo sentido
São reflexos da minha traição
Descontroles da minha libido.
Os eventos se repetem duas vezes na história
Um fogo que não queima a sarça
Uma corrupção que afeta a memória
Primeiro a tragédia, depois a farça.
Eu escolho matar o que se liberta da teia
e me entregar de vez a submissão
mas é só contemplar a porta aberta da cadeia
que aproveito pra perverter mais uma vez minha relação.
Eu sou o pior dos dois que criei
a única coisa que matei foi a inocência
a redenção estava ao alcance mas abandonei
e agora, é viver com a consequência.
Mantenho-a refém nessa cúpula
Como uma triste fábula
Onde se retrai apavorada figura
No quarto, enorme tarântula.
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Baseado no livro o homem duplicado de José Saramago com citações de Hegel e Marx.