Colóquio com Manelito do Pantanal
para Manoel de Barros.
Como Ezra com Whitman
tenho sido muito amargo
com você, velho irmão
pantaneiro.
Odiei seu verso lodoso
odiei seu neologismo coaxado
e nonsense,
odiei sua pontuação
pontuada pela falta
odiei seu riso que sempre tocou
um bumbo
ao se imaginar um violino
e, mais que tudo,
odiei sua inocência
que jamais conseguiu disfarçar
a indecência que era sua alma
com olhos de coruja traída,
odiei também quem muito
te amou
(assim vi meu ódio atacar
a nação).
Faço um pacto com você
Manelito,
pois já te odiei demais:
continue por aí, longe de mim
a dançar seu verbo sem graça
sob a pata da onça aleijada,
e me deixe ser amargo
porque essa é minha mais
sincera
expressão de doçura
e meu ódio a mais visceral
expressão de reverência.
Estamos quites, Mané?