UM PAPAGAIO QUE LEVOU E DEIXOU SAUDADES
Tinha em Cabinda um papagaio que me pediu para vir comigo.
Trouxe-o e ensinei-o a falar português,
Ele aprendeu com muito siso,
Tornou-se burguês.
Levei-o a passear comigo pela cidade para se poder ambientar,
Acabou por ficar impressionado pelo que viu,
Aproveitou para palavras memorizar,
Nunca desistiu.
Na praça principal viu pombos a voarem e comerem milho,
Achou graça, começou alto a gargalhar,
Tive de lhe calar o bico,
Fi-lo parar.
Apareceu um polícia, pediu a identificação do meu papagaio,
Como nos esquecemos dela em casa,
Foi multado, sentiu-se lacaio,
Ficou desgastado.
A partir daquele dia, o meu papagaio entrou em depressão,
Ficou triste de muito mau humor,
Aumentou-lhe a pulsação,
Sofria de dor.
Fiquei sem saber o que fazer ao meu querido e fiel papagaio,
Não respondia às minhas perguntas,
Olhava para mim de soslaio,
Dúvidas eram muitas.
Levei-o ao veterinário que achou ser um caso de psiquiatria.
O diagnóstico era o que eu pensava,
Um mal grave de nostalgia,
Que me preocupava.
Certo dia o papagaio desapareceu. Foi juntar-se à sua família,
Na terra longínqua que o vira nascer, em África,
Deixou-me em permanente vigília,
Com um truque de mágica.
O que mais me chocou foi ter desertado sem se despedir de mim,
Consolo o meu foi saber que estava feliz
Por viver no seu palanquim,
Sua real matriz.
Ruy Serrano – 18.10.2016