Perda de tempo ou a maior estupidez de uma vida inteira

Sim, Velho, eu sei

que você apostou a família

a saúde, a vista

a palavra, o talento

e todo dinheiro

que pôde arrancar dos credores

entre Dublin, Paris e Trieste,

sim, você fumou, bebeu

e fudeu o suficiente

a não deixar rastro,

senão o do destino malsinado

e fudido.

Você deu tanto de sua alma

ao livro azul, Jaime Aloísio,

que ao chegar no Finicus

não conseguia

enxergar um elefante

a um palmo do nariz;

eis o fim prometido

que se anunciava

no formato mais nefasto.

Mas o destino é o destino

não é mesmo,

Pilar de Taverna?

O que me intriga é você ter dito:

só peço que dediquem a vida

à leitura de minha obra.

Seria a maior estupidez

da minha porra de vida

passá-la com sua obra

nas mãos,

(um dia não pode durar

6 meses,

muito menos sete anos):

Deus não me perdoaria

e o Diabo não me deixaria

entrar no inferno.

Li sua vida, Velho,

e não sei como alguém

com tanta coragem

para apostar o que não tinha

temia trovões, gatos pretos

e outras superstições

malogradas e inofensivas.

No fundo, no fundo te admiro

Velho maluco, te admiro

porque você mirou o norte

que o nariz ditou

e seguiu com o mundo às costas.

Que é família,

filhos, Ilha e esperança,

perto da montanha

que estava prestes a erguer?

Às vezes acho

que você confundiu

o prazer de escrever

com o nosso ao ler.

Não Velho, não há nessa leitura

o mesmo prazer

que você desfrutou na escritura.

Há pachorra, muxoxo, chatice

delonga e o infinito em desgosto,

dedicar-te a vida

é pior que suicídio

mas no fim, Jaime Aloísio,

gostaria de ter erguido

sua montanha;

e minha diversão (como a sua)

consistiria em ver o leitor

ficar cego antes

de saber-se perdido

nos seus labirintos.

Essa visão (kkkkkkkkkkkkk)

não teria preço

seria mesmo fodástica.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 10/10/2019
Reeditado em 19/05/2020
Código do texto: T6765939
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