O LEÃO E A GAZELA
“Aos atletas Rui e Rogério”
Os dois atletas mais talentosos
Que nas pistas se tornaram famosos,
Vistos à luz d´ engenhoso critério,
Foram os juniores Rui e Rogério.
Moreira e Cerqueira de seu nome
Tinham, os dois, potencial enorme:
O Rui era poderoso como um leão,
Rogério, gazela de locomoção.
Dedicados ao treino, sempre bem,
A competir, era vê-los como ninguém;
Eram, por isso, os mais desejados
Por treinadores experimentados.
Na pista da Luz se revelaram
E, rapidamente se confirmaram;
Como que em apoteótico surto,
Cresceram em meio-fundo curto.
Entre os catorze e os dezoito anos
Ultrapassaram os melhores planos
E, como é óbvio, foram cobiçados
Como que troféus ambicionados…
Por mestres-escolas, e com avidez,
Foram sondados, cada um à vez
Para mudarem a sua condição
Mas, por lealdade, diziam “não”.
Utilizados os meios mais sórdidos
Com técnicas e argumentos mórbidos…
Esqueciam-se esses tais mentores
Que existe hierarquia de valores.
Por princípio de educação singela
Foram bem leais, o leão e a gazela,
Que, por hombridade e amizade,
Se tornaram “exemplo” de liberdade.
Neste inócuo país de maravilhas
Não se estranhe o uso de armadilhas…
É assim que, em trilhos menos rectos,
Caem por terra honrosos projectos.
Ele há mais marés que marinheiros
Pra chegar à meta entre os primeiros:
Mudar o seu rumo e as suas vidas
São as opções lógicas seguidas.
Os que, trabalhando como mouros,
Passam p´ lo desporto quais meteoros,
Recebem como paga da dedicação
Esta abjecta forma d´ humilhação.
O leão e a gazela da minha estima
Mereciam dedicatória doutra rima…
Mas, apenas como sempre faço,
Aqui lhes deixo um carinhoso abraço.
Frassino Machado
In A MUSA DOS ESTÁDIOS