TROMBETAS AOS ISCARIOTES

Quero sair do lugar comum

Das razões e das aflições.

Quero só o meio termo

Do quase possível.

Para dar alguma beleza ao momento

Lanço mão da palavra

Imparcial e figurativa,

Atirada como flecha que voa em mira

Porque me é urgente escapar

Do lugar comum das paixões dos tolos

E das ilusões programadas aos desconsolos.

Eu quero o chão.

Ainda que seja esse mesmo,

Duro como pedra!

No palco esfacelado de todos

Caminho com a pele queimada de poesia

Tatuada com falso asfalto resistente,

Desses!

Que se esfacelam por todos os lados

Onde a hipocrisia faz tapetes

Escorregadios a quem passa distraído e furtado,

Onde a verdade , sempre assustada,

Foge correndo

Das garras dos iscariotes.

São muitos, incontáveis.

Quero me calçar da realidade, ´

Nunca esquecida

De que

Nenhum conforto

Se curva aos pés

Judiados

Pelas tantas caminhadas sem caminhos.

Ainda que vez ou outra

Ainda sonhemos

Estar apenas nos efêmeros sonhos,

Prestes a despertar dos medos.

E depois de bem acordada,

Quero descalçar

Toda desfaçatez cruenta e amontoada,

Todo o lixo grudento

Dos Homens grandes

Cujo odor é saneado porcamente

Com a dor da fé alheia ludibriada

-única saída!-

Para ainda se acreditar

No Homem de boa vontade.

Bem lá no final

Quero malhar em verso certeiro

Toda mentira dita em poesia

Falsa ode declamada aos tufões de gentes

Aliterada com aliterações alienadas!

Vozes conjugadas com verdade negada,

Lançadas às chagas perenes

Do tudo que feneceu

Pela consciência furtada.

Eu também, por vezes, faço um esforço!

Para acreditar

Na ressurreição dos Homens

Enquanto isso…

Fujo das sujas auras dos iscariotes

Armada como se de versos em trombetas,

Sempre blindada de poema,

Refúgio único

Do meu insaciável lugar comum.

Nesse lugar impermeável…

Eu sempre me sinto forte e protegida.