Sarau dos Ventos
Que o sarau dos ventos te carregue e te leve ao olho do tornado;
E que nesse vórtice te arremesse na altura desse desiderato.
Que a poesia desejada venha sem nome, pois sobrenome ela não tem;
E se derrame nesse jardim polinizado de encanto, canto e fertilidade.
A tarde caia tímida;
O sol a se despedir no colo de Milfa Valério, que portava uma aura divina e iluminada feito uma cigana madrilena;
E, junto a ela, Adélia Prado, ali, da "janela sem tramelas", sorria...
Cheia de enfeites num sábado de outono, debruçada na varanda, declamando o seu cotidiano...
De chinelos de tecido e avental bordados, sujo de terra e de folhagens de jardim, cheio de memória, de lembranças, delas, provocando as nossas, que emergiam e se declinavam fertilizada de emoção.
O sarau dos ventos abriu uma porta!
A poeta convidada entrou descalça silenciosa e discreta. Beijou a todos que ali estavam.
Ao sair, deixou cair de suas mãos, sementes de algodão que o jardineiro João Lopes, cuidadoso e atento, sorriu e obediente plantou junto ao jasmim...