A PALAVRA-SEMENTE
"Aos esfomeados da Palavra"
As palavras não são produtos, ah, não são.
E, nem sequer, em si mesmas, têm idade:
Pois elas não são velhas – e muito menos novas! –
Apenas são, tão só, discretas metamorfoses.
Toda a palavra é uma palavra-semente
Que importa cair à terra para germinar.
Ela tem que morrer, vivendo pra renascer,
No corpo de um discurso ou de um poema.
A terra – sensações, emoções ou intenções –
Gerará no seu ventre-virgem toda a aura
Inspiradora da letra, pela alma do poeta,
Que, por sua vez, lavrará a terra a seu jeito.
Todo o poeta, que se preze, é um semeador
Que vagueia em busca da palavra-semente;
Prepara a terra, com o arado da paixão;
Lança a semente e fica esperando a colheita.
Mas há que acautelar e fazer vigilância,
Pois a terra, por vezes, torna-se madrasta
Que, infestada pelos corvos predadores,
Impede qu´ as palavras cheguem ao destino.
Se em cada primavera a palavra é renovo,
Ela torna-se plantio e frutifica no poema,
Na esperança de ser luz e de ser alimento
Para que brote vida, com arte e com encanto.
Palavra, que é semente, que é pão e magia,
Palavra, que é fermento, logos e verdade,
Palavra-testemunho qu´ é vida e liberdade
Palavra-verso, qu´ é água clara em poesia.
Palavra-grão em onda de trigo ceifado,
Que é batido na eira, em dança-desafio,
Palavra-profecia, conduta de ternura,
No raio incandescente de um farol eterno.
Ó palavra-semente, palavra peregrina
Que calcorreias as veredas da promessa,
Vem cada dia ao meu encontro, pois te espero
No baloiçar do tempo e na brisa da festa.
Tu és poesia, desde o princípio do mundo,
Tu és balada, tu és musa e madrugada.
Ó palavra-semente, ó meu campo fértil
E partitura colorida para se cantar!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA