Evocação
Sempre fui fascinado pelo aroma das palavras
e a impressão miásmica que deixam na memória.
Sejam as essências verbais que movimentam o lembrar,
embalsamando o Ser de conjugações.
Seja a morrinha imagética e limitante dos adjetivos
que tange o infinitivo e,
em sua pequenez,
traduz a esfera em ponto.
O eflúvio dos pronomes, por sua vez, tende a ser menos universal,
mudando suas notas de pessoa a pessoa.
Sua pungência, dependente do tempo e do espaço,
se distancia e envelhece na vida.
E assim, o rastro de ranço e perfume,
que de tu, eu ou nós exalava
Não passa hoje de vestígio sutil
em meio a amálgama de odores que me acompanha.
O "acento" suave de tabaco na boca,
que agudiza seu amargor e cincunflexiona meu ego.
O amadeirado que "virgula" a garganta e evoca suspiros.
A doce nostalgia que impregna o ponto final de saudade,
e evoca você.
Você cheirava a chocolate em banho maria com um toque de almoço em familia.
Como a fragrância de lojas de doces em domingos de páscoa, sabe?
E mesmo percebendo agora que prefiro o odor salgado do suor,
ainda me lembro de ti ao comer um bombom.