Sonhar S. Paulo


Sonho o pantanal intacto

E as araras voando.

Sonho o solo alagado

E as piranhas nadando.

Sonho os ramos verdejando

Depois as águas descendo

E a paisagem mudando.

Os primeiros bandeirantes

Pelo mato vão se internando

Levam olhos de aventura

Levam neles alma lusa

Levam gotas de meu sangue

Meu primo vê uma índia

De repente se enamora

E a paisagem se transforma

Uma casa se ergue e outra

Vai crescendo a bela aldeia

Planta-se a horta e a roça

O senhor vê sua escrava

Tomando banho de lua

Vai de manso feito boto

Fazem um filho no escuro

A paisagem se transforma

As ruas e as calçadas

Estão agora ladeadas

Por vivendas jardinadas

Passam caleches ligeiras

E vão florescendo as vendas

Vão ao colégio as meninas

Os pais estudam os negócios

Crescem fortunas, impérios

Crescem torres de concreto

Rebrilham de tanto vidro

E no grande aeroporto

As naves são como aves

Que nunca param no ninho

Eu sou um ser pequenino

Vou em busca de um abraço

Vem até mim um caboclo

E passa um senhor distinto

Qual dos dois será meu primo?

Embeveço ante de um moço

De olhar malandro e moreno

E todas as cores do mundo

Florindo no seu sorriso

Dou-lhe o coração e fico

Fazendo parte na história

Da cidade de S. Paulo

Que solidifica a paisagem

Pois me abrange no cenário

Deste meu palco

Onde sonho