O Pescador de Piaus
Para: Sargento Ozires
Sargento Ozires
Cuidava de suas varas de pesca
Como um samurai cuida da própria espada.
No começo de abril,
O rito inicial.
Primeiro, a escolha do local
Nem muito fundo, nem muito raso,
Longe da azáfama das lavadeiras
E da algazarra dos meninos.
Em maio,
A construção caprichada do girau
Bem amarrado, bem feito.
Por último, o teste com as linhas,
A compatibilidade das chumbadas
Com a correnteza.
Quando chegava junho
lá estava ele,
Chapéu de palha na cabeça
Milho verde para isca,
E toda paciência do mundo,
Ninando a vara
Até o puxão, do piau barbatão.
A vara vergando, cedendo, vibrando
Desenhando no ar gestos irregulares
A linha cantando
Cortando a água
no feroz embate.
O anzolão branco de alumínio
Certeiro, infalível, frio, irascível
Subjugando
Até que vencido
Vinha à tona
O troféu em preto e branco.
Listras reluzentes dos piaus de vara
Bois erados das histórias
De um Parnaíba de outrora.