Poesia originalmente publicada em 10 de abril de 2015. Reedição com texto expandido e complemento "A Filha mais velha", de Lumah e "Missão cumprida" de Isabelle Mara, que na primeira edição entrou depois, como interação.
A Irmã mais velha
A IRMÃ MAIS VELHA
Miguel Carqueija
Me ponho à frente da trilha
pra não preocupar mamãe;
já sou casada e com filha
mas faço um pouco de mãe.
Imãozinho, vá sacando
que este mundo não sou eu;
nós temos que ir levando
a vida que Deus nos deu.
Por ele eu faço de tudo,
até comprinhas eu faço;
mas quando largou o estudo
eu quase saí no braço!
Maninho, das drogas fuja
porque é um caminho pra cova:
posso ser irmã coruja
mas se eu souber levas sova!
Gastas dinheiro com farra,
vives quase a esmolar;
não vês que a vida é uma barra,
precisas é de apanhar.
Deves voltar a estudar,
que a vida não é só ronco;
tu vais ter que endireitar
nem que eu te amarre no tronco!
Meu maninho, entende bem
que eu te amo de verdade;
sou o teu anjo também,
te quero a felicidade!
E não deixes teu trabalho,
se não surgir um melhor;
não cometas ato falho
senão vai ser bem pior.
Minha irmãzinha caçula
é outra história enfim;
não fala palavra chula,
puxou um pouco de mim.
Maninha, tu és a irmã
que eu acho que nem mereço;
já sabes, sou tua fã
te quero com grande apreço!
Toma cuidado na vida
porque canalha não falta;
és a minha irmã querida
e eu te defendo da malta.
Com Deus é muito o que é pouco,
não creia em promessas vãs;
não faltam no mundo louco
corruptores de irmãs.
Prossiga na boa linha
pra chegar aonde quer;
e quem mexer com a maninha
vai apanhar de mulher!
Eu te aconselho buscar
trabalho, fé e estudo;
e um homem bom para amar,
com isso estarás com tudo.
No que depender de mim
vocês irão muito bem;
eu sou a mana, enfim,
mas sou um pouco mãe também!
Que os meus pais não se incomodem,
não deixo cair a peteca:
vocês fazem o que podem,
confiem na sua moleca!
25 e 27.2.15 7/5/2018
A FILHA MAIS VELHA
Lumah
Passei pela vida, desde a mais tenra idade, a cumprir com meus deveres, como filha, a mais velha dos dez irmãos. Nove atrás de mim. Desde pequena procurava auxiliar mamãe nas lidas domésticas, cuidando dos irmãos menores, organizando casa, o material escolar, fazendo os temas (estes sempre prioritários), lendo revistas e jornais , aprendendo palavras novas, me atualizando, que era o que Papai primava nos filhos. Disciplina, obediência, respeito, boas maneiras, valores desenvolvidos em casa e levados para a sala de aula, onde sempre procurava ser a primeira da classe, para orgulho de meus Pais. Isto tudo até os treze anos.
Meu Papai então, matriculou-me no curso de Datilografia, na Escola Marista, onde não se podia ver o teclado ( assim faço até hoje). Comprou uma máquina de escrever de marca Olivete, para treinar em casa. Logo ele ditava cartas e ofícios para as empresas (tinha loja de eletrodomésticos) e eu digitava, ofício por ofício, envelopava e levava ao correio. Passaram-se mais de 50 anos e lembro como se fosse hoje. Se eu escrevia uma palavra errada, fazia-me apagar com aqueles cartõezinhos, não era como hoje no computador que se deleta e corrige.
Assim fui aprendendo a auxiliar meu Pai no seu trabalho, antes que nascesse um filho homem, nasceram quatro mulheres. Sobrou a mim, fazer tarefas de menino, como auxiliá-lo, nas horas de folga das aulas e temas, ajudá-lo a carregar no jeep, máquinas de costura e outros objetos no carro e ir junto fazer as entregas no interior do Município. Lembro-me de estradas barrentas, o carro deslizava, eu tinha medo....
Como auxiliava o Pai, fui deixando de lado as tarefas domésticas e muitas vezes entrava em atrito com minhas manas por isso. Minha tendência no trabalho, desde cedo, eram as tarefas de um filho homem. Desenvolvi muito a mente, a prática na escrita, solda à castanho em baterias de automóvel e latarias ( meu Pai fazia um pouco de tudo). Era a filha mais velha. Mas, gostava mais deste tipo de trabalho e ao lado do Pai, do que as lidas domésticas, cozinha, lavar roupa, chão da casa, não me dava muito bem... e mamãe me chamava de preguiçosa.
Aos 16 anos fui estudar num colégio interno, dirigido por irmãs religiosas, onde fiquei por dois anos. Desde o pré-primário estudei em colégio particular de freiras (era o único na pequena cidade onde morávamos). O prédio foi financeiramente construído pelos Pais dos alunos pretendentes a estudar. Os pais auxiliaram também na construção. Gesto lindo, hoje, todos são financiados pelas Prefeituras, Estado ou União.
Ao retornar do Colégio Interno (duas horas de trem Maria Fumaça e só vinha cada semestre) meu falecido Pai era candidato a Vereador. Lá fui eu acompanhá-lo na Campanha e subscrevia seus discursos políticos. Ele se orgulhava muito de mim. A meus irmãos, todos menores, coube a tarefa de auxiliar a mamãe na casa. Até eu casar com 20 anos. Aí, minha irmã, a terceira, auxiliava a ele e com seu falecimento assumiu o controle da Casa Comercial e da Granja. Dirigia até o Toyota. Faleceu precocemente aos 33 anos. Pois ela, então, era a irmã mais velha. Era mais corajosa que eu, dirigia longe, coisa que eu não fazia.
Guardo cada pedacinho de caminho ao lado do meu Pai e de minha mãe. O que aprendi orientou minha profissão de Professora e de mãe de família. Muito persistente, disciplinada e com as experiências adquiridas, já com dois filhos pequenos, candidatei-me à Vereança, segui a carreira de meu Pai, meu esposo junto comigo, visitávamos cada família de todo o Município. Tive cargo eletivo por 16 anos e além de ser a primeira mulher a eleger-se, fui Presidente da Câmara também, a primeira.
Foi a caminhada de ter sido a primeira filha, a filha mais velha, ao lado de meus Pais.
(Lumah) do Recanto
Luizameninmanfredi- nome.
Lumah (Luiza M. Manfredi) (Barra Velha, SC) escreve uma das melhores escrivaninhas do Recanto das Letras. É poeta, trovadora, contista, cronista e navega em outros gêneros literários.
MISSÃO CUMPRIDA
Isabelle Mara
A sina da irmã mais velha
é ser mãe dos seus irmãos,
nem mesmo perguntam a ela
se ela quer essa missão.
Porém, termina aceitando
como forma de ajudar,
sua mãe tem outros tantos
o jeito é se conformar.
Assim cedo vai aprendendo
a sublimar a incumbência...
É uma missão que pretendo
assumir com inteligência.
Minha mãe me confessou
precisar de minha ajuda
e é por amor que eu vou.
Um dia tudo isso muda.
Os irmãos irão crescer.
E já cumprida a missão,
sei que fiz por merecer
o amor dos meus irmãos.
Isabelle é apenas uma moça triste, sonhadora que tenta no que rabisca, preencher o vazio que não se cansa de crescer. Não é poeta, simplesmente escuta o coração que às vezes machucado demais, não encontra espaço para armazenar o pranto, aí tenta desfaze-lo transformando-o em lágrimas para não submergir. Já transformou em um livro os seus muitos rabiscos, bem como alguma das suas composições musicais em CD, somente para guardá-las, quem sabe no futuro alguém venha a conhecer e cantá-las! No mais, nada a acrescentar que seus rabiscos já não os tenha feito.
(do e-livro "Flores do Recanto 4", publicado em minha escrivaninha)
imagens clickgratis (nas compras, modelo Camila Alves) e pinterest (duas irmãs, mais velha e mais nova); foto de Lumah (Luiza Manfredi) gentilmente cedida por Lumah; foto de Isabelle Mara, gentilmente cedida por Isabelle Mara.