Naftalina

Hoje, quase em desuso total.

Mas, que saudades que eu tenho, daquele cheiro de naftalina, que exalava no guarda-roupas de Dona Elvira.

Daquele chão vermelhinho, devidamente lustrado com o escovão; aquele sofá de braços e pés de madeira, adornado com uma manta de mil tirinhas coloridas, costuradas vagarosamente nos pedaços de antigas calças jeans.

As broncas que eu levava ressoam eternamente nos tímpanos; quando aquele frango de pescoço comprido e amarelo, pulava na pia e quebrava os copos de mamãe.

A gatinha, recém-parida ninava seus bichaninhos no pedal da velha Singer. Ela cogitava ser eu.

Cataratas.

Naquele tempo mãe não podia enxergar. Eu não matei o frango e nem surrei a gatinha. Eles não entenderiam.

Por esses motivos, eu também nunca apanhei.

Poeta de Borralho
Enviado por Poeta de Borralho em 12/05/2018
Reeditado em 28/11/2020
Código do texto: T6334922
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