RETRATO DE MÃE
Esse retrato na parede
O tempo nunca consome.
É o instante eternizado
Em algum momento passado,
É o olhar que me tem guiado
E sempre esteve ao meu lado.
A mão caprichosa do tempo
Com suas pinceladas precisas,
Vai desenhando aos poucos,
Na branca tela do meu rosto,
Alguns vincos de fino traçado
Que se assemelham aos do retrato.
Quando me olho no espelho,
Vejo entre espanto e receio
Que no retrato me reconheço.
Os mesmos olhos negros,
A mesma forte presença
Que não me deixam esquecer:
Ela é a essência do meu ser.
Vou me diluindo aos poucos
Na imagem da parede nua.
Ela me sussurra todos os dias.
Diz que amanhã eu serei ela,
Estampada na mesma moldura,
A olhar para a minha filha
Com os mesmos olhos de ternura.
(Texto publicado no livro Pétalas ao vento)