PARA DONA DICA

Eu vou buscar lá na selva

entre a relva escondida,

a fragrância despreendida

de seu alambique gentil;

Vapores que vão saindo

da silvestre natureza,

com suspiros de turquesa

e alento primaveril...

Eu vou pedir para os raios

que cintilam seus primores,

os mais luzidios amores

da benquerença rural,

espectro que se derrama

como eterna catarata,

meu coração se desata

numa eloquência brutal.

Eu vou derramar no seio

das planuras virginais,

as veredas musicais

da campestre inspiração,

onde o Anu se transfigura

nos gorjeios de sua garganta

e onde o campeiro canta

sua mais sentida canção.

Vou buscar o meu recuerdo

nutrido pela vivenda,

horas de alegria tremenda

narrada com frenesi,

aonde o glorioso lunar

na testa de Tiarajú,

deu Pátria para o chirú

na Legenda Guarani.

Eu vou sondar sem reparos

os meus tempos de teatino,

nas horas em que o menino

pouco pensava nele;

brotará bem delicada

uma emoção imponente,

que o coração nunca mente

quando só fala por ele.

E aromas, cantos, fragrâncias,

recuerdos e sentimentos,

atados sem ornamentos

com laços de filial amor

e nesse seu aniversário

prazeroso e satisfeito,

eu os prendo no seu peito

como meu amor maior.

Manaus, AM, 12/12/1997