NÓS, JOTAS DE “JOSÉ”

Na descida da noite

Nunca enluarada

Bem no início da estrada,

Quando a fé reluzia...

"José" encenaria

A “*vida Severina”:

Jota de Jeremias:

As sagradas famílias

Todas elas esquecidas

Pelas praias tão lindas...

De lusco-fusco horizonte,

Sem se ter **"para onde".

Pela lida que rola

Na “maré das marolas”,

Duma vida sonora

Dentes tiros certeiros...

Você foi só mais um

Do palco traiçoeiro.

Mas não foi “só mais um”!

Você foi Jeremias,

Que rima com poesia!

Você foi mais um alvo

Que não pode ser salvo.

A você eu versejo

A ecoar ao universo:

Você tinha o Direito,

Não o dum tiro no peito!

Você é verso pulsante!

Meu poema gritante.

Eco ao meu horizonte

Verso que me reluz!

Dentre tantos feridos

Deste chão tão perdido,

Desprovido de luz.

Mais um “José” sem aonde

Dentre tantas Marias...

Como eu, que algum dia

-só crianças do ontem!-

Que apenas queria

Se sonhar ter por onde.

Ao José - Jeremias!

Mais um ser em agonia,

Mais um ser... do agora

Da História de ontem,

De futuro...para onde?

Você tinha o Direito,

Não o dum tiro no peito!

Você foi só mais um

Na cena reentrante,

Desta disritmia

De palco horripilante.

Mesmo palco que um dia

Qual o “José da poesia”

Fez rima penetrante:

O Drummond já sabia.

Ele então versejou

Ele nos avisou...

Mas ninguém o ouviu:

Mais um Jota partiu.

Foi de vida tão breve

Que os “homê só se esquece!”

Dentre sinas afogadas,

Pela dura marola

Ora em alta maré.

Maré de nós todos,

Violenta, tão brava

Mareada no engodo,

Mais que banalizada...

Na praia amortalhada,

Que já não nos dá pé.

E dita maravilhosa...

Sob os braços do Cristo

Que acolhem de longe

A tão triste constante

Vida de sobressalto.

Coração : -Mãos ao alto!

E a minha poesia

Que hoje em dia suspira,

Segue à revelia,

Arritmia de ser

Palco de alegoria!

Eu insisto em ser rimas...

Mais um tiro ao alvo!

Bem no jotas dos Josés...

Que sequer começaram:

Nem no palco ensaiaram.

Você foi Jeremias...

Um jota de José,

Dentre tantos de hoje em dia!

Você foi mais um alvo,

Você nunca foi salvo.

Você tinha o Direito,

Não o dum tiro no peito!

Apagou-se um sorriso

Foi-se o enredo constante

Que não teve por onde...

Nesse samba ao avesso

Só de desassossego.

E porque hoje é Sábado

De feliz Carnaval

Tudo segue igual!

Eu te vi Jeremias...

Logo ali na avenida

Ensaiando seu passo,

Que seria amputado.

Versejei nossa sina,

A gritar por socorro

Neste triste engodo

De abandono cruel.

Eu gritei, Jeremias:

-Nosso enredo é de fel.

Mas ninguém me ouviu,

Só um surdo zumbiu.

É dia de avenida

À toda vida sofrida!

Que hoje porta a bandeira

Da sina traiçoeira

Que ninguém a socorre.

Por aqui só se morre,

Em triste apoteose:

Consciência em narcose.

Somos muitas Marias,

Todos “jotas de José”!

Passsistas da agonia

A lhe chorar, Jeremias.

Mais um tiro se ouviu...

A vida sucumbiu,

E a tragédia seguiu.

A você Jeremias

Que rima com poesia,

Mais um bravo José!

Verso só como Maria...

Mas sem perder minha fé.

-Até um lindo dia!

E que tenhamos o Direito,

Não o dum tiro no peito!

Nota: *, ** Alusão às poesias de João Cabral de Melo Neto, e Drummond, que embasaram minha presente analogia poética.