A Garçonete
A GARÇONETE
Miguel Carqueija
Sou alegre, voz dengosa,
meiga porém maluquete;
dizem que eu sou bem charmosa,
uma linda garçonete!
Mas sei fazer muito bem
a minha obrigação:
peço a encomenda e também
trago com muita atenção
aquilo que o freguês pede,
levo sem tirar nem por;
se ele um sorriso concede
é uma bênção, um calor!
Tanta menina risonha
vem comer na lanchonete,
e eu vejo como ela sonha
ao cortar a omelete!
De tanto atender freguês
até leio pensamento,
quem vem aqui todo mês
atendo sempre a contento!
Você quer suco de uva
ou suco de abacaxi,
veio se esconder da chuva
e acabou entrando aqui?
Levo o cardápio sorrindo
e anoto cada pedido,
e com meus olhos luzindo
trago o seu peixe cozido!
O refresco e a sobremesa
e o mais que você pedir
chegam logo em sua mesa
pela mocinha a sorrir!
Se a comida é bem banal,
simples arroz e feijão,
um peixe sem muito sal,
um sadio macarrão,
o que importa é fazer bem
e ser pra língua gostosa;
tem gente que também vem
pra comer contando prosa;
e vou conversa escutando
fingindo que não escuto:
como o tal freguês contando
sobre o desenho do Pluto!
E a namorada dizendo
pro cabelo elogiar
e o coitado respondendo:
— Mas e se alguém escutar?
E assim com meu uniforme
me desdobro pra valer,
e trago tudo conforme
o que o freguês quer comer!
Eu não gosto de paquera
no meu local de trabalho!
Sou bonitinha? Espera...
Sei muito bem quanto valho!
Gosto de servir família,
marido, esposa e criança:
hoje o casal com a filha,
a menininha de trança,
quis um filé de linguado
com um purê de batata,
e mais um ovo estrelado
e uma cerveja de lata,
pra garota laranjada,
e ela ria alegremente;
servindo gente educada
é que eu trabalho contente!
Porém o que me tira do sério é quando o meu namorado
só pra controlar me aparece pra bancar o freguês, pois é!
Se tem coisa que eu detesto é aturar um enciumado!
Tu "vai" querer que eu te sirva? Vou te entornar o café!
(19.2.2017)
SOBREMESA DE GARÇONETE ( OU... COISAS DE GARÇONETE )
Quando ainda bem jovem, exerci por alguns anos, a profissão
de garçonete ( entre outras profissões ).
Era um serviço cansativo, porém, gratificante e na maioria das
vezes, divertido.
De todas as cantadas ( e foram muitas ) que recebi, uma ficou
na história e durante muito tempo eu e as minhas colegas rimos muito
ao lembrar-mos.
Na época eu trabalhava no CANECÃO famosa casa de shows, a
clientela era geralmente de classe média à alta. Muitos filhinhos de
papai... universitários... executivos... etc.
Entre meus clientes assíduos tinha um jovem estudante cobiçado
por todas as colegas de bandeja. Era sempre gentil e dava boas
gorjetas, porém, tinha fama de conquistador o que me deixava com
um pezinho atrás com ele. Certa noite, depois de jantar, após o show
ele me chamou sorridente e disse: Minha garçonete preferida, hoje é
o teu dia de sorte! Ao que respondi: É? Não diga? E ele matreiro,
levantou-se e sussurrou ao meu ouvido: Vamos a algum lugar quando
largares do serviço? E piscou brejeiramente para mim com aqueles lindos
olhos verdes.
Indignada, respondi: Olhe aqui meu rapaz, eu sou apenas garçonete!
Isto é um restaurante! Se eu quisesse fazer programa, eu não estaria
dando duro aqui!
Fingindo-se de espantado, o jovem respondeu calma e cinicamente:
Minha imaculada flor! Porque tanta indignação e espanto?Não estou
a pretender nada que não esteja inserido no contexto de um restaurante!
Confusa e espantada retruquei: Como assim? E ele erguendo, aqueles olhos
verdes encantadores e fingindo inocência, cinicamente completou:
Isto mesmo minha bela garçonete! Veja bem... Tu não me servistes um jantar
maravilhoso? E eu: Sim! Então... Eu só pensei que você poderia completá-lo
com uns beijinhos deliciosos como sobremesa! Afinal a sobremesa não faz parte
de qualquer jantar? Dito isto, deu uma risadinha gostosa e estalou um selinho
na minha bochecha pulando rapidamente para trás !
Minha companheira de mesa ( trabalhava-mos em dupla ) não se contendo
deu uma gargalhada dizendo: Aí Flor de Lyz, despedaçando corações heim?
Tentei ficar com raiva, mas, ao olhar pra cara de inocente do conquistador
que brejeiro me paquerava descaradamente de longe, acabei caindo na risada
com as outras meninas, que durante um bom tempo se esqueceram do meu nome
e só me chamavam jocosamente de: " a sobremesa do galã " rsrsrsrsrsrs.
Flor de Lyz
A GARÇONETE
A bandeja na mão...
Um sorriso nos lábios
E um turbilhão no coração...
Entre pratos, talheres,
Copos e guardanapos,
A garçonete faceira e gentil
Vai de mesa em mesa
Oferecendo e servindo delícias
Pra nossa fome saciar...
Sempre alegre e graciosa,
Ninguém pode imaginar
Quantos sonhos passam por sua cabeça:
Uma casa confortável e bonita...
Uma mesa sempre farta...
Um namorado amoroso e gentil...
Poder cursar uma faculdade...
Se formar, e ser chamada de " doutora "
Mas... Enquanto nada disso vem
Ela desfila brejeira,entre as mesas
Com sua bandeja na mão,
Um sorriso nos lábios,
E os sonhos guardados no coração...
E assim, segue a garçonete
Feliz tecendo seu futuro,
Enquanto nos serve cada refeição!
Flor de Lyz
Flor de Lyz, 60.4 anos, nascida em Governador Valadares
Minas Gerais...viveu uma infância pobre, mas, muito rica em
liberdade... cresceu correndo pelos campos, acompanhando e
ajudando a avó a plantar na roça.
Aos cinco anos veio para um orfanato no Rio de Janeiro, e lá
se encantou com as palavras, tão logo aprendeu a ler, começou a
brincar com elas e vivia rabiscando,versinhos em papéis minúsculos.
Mãe solteira... criou a filha e duas netas sozinha e só à bem
pouco tempo, criou coragem de libertar SEUS VERSOS das gavetas
onde viviam aprisionados para publica-los aqui no RECANTO...
Sonhadora, romântica, Ganha a vida como *** Cuidadora social
e artesã *** Como toda aquariana vive mil anos à sua frente ...
Mas, sempre com os pés no chão, e a poesia na alma... Apesar de
continuar considerando seus contos,cronicas e versos como simples...
ESCRITOS DE GAVETAS...
imagens de garçonetes 1 e 2, pinterest; 3, google: musical "waitress" da Broadway com Jessie Mueller e Joe Tippett
foto de Flor de Lyz gentilmente cedida pela autora
A GARÇONETE
Miguel Carqueija
Sou alegre, voz dengosa,
meiga porém maluquete;
dizem que eu sou bem charmosa,
uma linda garçonete!
Mas sei fazer muito bem
a minha obrigação:
peço a encomenda e também
trago com muita atenção
aquilo que o freguês pede,
levo sem tirar nem por;
se ele um sorriso concede
é uma bênção, um calor!
Tanta menina risonha
vem comer na lanchonete,
e eu vejo como ela sonha
ao cortar a omelete!
De tanto atender freguês
até leio pensamento,
quem vem aqui todo mês
atendo sempre a contento!
Você quer suco de uva
ou suco de abacaxi,
veio se esconder da chuva
e acabou entrando aqui?
Levo o cardápio sorrindo
e anoto cada pedido,
e com meus olhos luzindo
trago o seu peixe cozido!
O refresco e a sobremesa
e o mais que você pedir
chegam logo em sua mesa
pela mocinha a sorrir!
Se a comida é bem banal,
simples arroz e feijão,
um peixe sem muito sal,
um sadio macarrão,
o que importa é fazer bem
e ser pra língua gostosa;
tem gente que também vem
pra comer contando prosa;
e vou conversa escutando
fingindo que não escuto:
como o tal freguês contando
sobre o desenho do Pluto!
E a namorada dizendo
pro cabelo elogiar
e o coitado respondendo:
— Mas e se alguém escutar?
E assim com meu uniforme
me desdobro pra valer,
e trago tudo conforme
o que o freguês quer comer!
Eu não gosto de paquera
no meu local de trabalho!
Sou bonitinha? Espera...
Sei muito bem quanto valho!
Gosto de servir família,
marido, esposa e criança:
hoje o casal com a filha,
a menininha de trança,
quis um filé de linguado
com um purê de batata,
e mais um ovo estrelado
e uma cerveja de lata,
pra garota laranjada,
e ela ria alegremente;
servindo gente educada
é que eu trabalho contente!
Porém o que me tira do sério é quando o meu namorado
só pra controlar me aparece pra bancar o freguês, pois é!
Se tem coisa que eu detesto é aturar um enciumado!
Tu "vai" querer que eu te sirva? Vou te entornar o café!
(19.2.2017)
SOBREMESA DE GARÇONETE ( OU... COISAS DE GARÇONETE )
Quando ainda bem jovem, exerci por alguns anos, a profissão
de garçonete ( entre outras profissões ).
Era um serviço cansativo, porém, gratificante e na maioria das
vezes, divertido.
De todas as cantadas ( e foram muitas ) que recebi, uma ficou
na história e durante muito tempo eu e as minhas colegas rimos muito
ao lembrar-mos.
Na época eu trabalhava no CANECÃO famosa casa de shows, a
clientela era geralmente de classe média à alta. Muitos filhinhos de
papai... universitários... executivos... etc.
Entre meus clientes assíduos tinha um jovem estudante cobiçado
por todas as colegas de bandeja. Era sempre gentil e dava boas
gorjetas, porém, tinha fama de conquistador o que me deixava com
um pezinho atrás com ele. Certa noite, depois de jantar, após o show
ele me chamou sorridente e disse: Minha garçonete preferida, hoje é
o teu dia de sorte! Ao que respondi: É? Não diga? E ele matreiro,
levantou-se e sussurrou ao meu ouvido: Vamos a algum lugar quando
largares do serviço? E piscou brejeiramente para mim com aqueles lindos
olhos verdes.
Indignada, respondi: Olhe aqui meu rapaz, eu sou apenas garçonete!
Isto é um restaurante! Se eu quisesse fazer programa, eu não estaria
dando duro aqui!
Fingindo-se de espantado, o jovem respondeu calma e cinicamente:
Minha imaculada flor! Porque tanta indignação e espanto?Não estou
a pretender nada que não esteja inserido no contexto de um restaurante!
Confusa e espantada retruquei: Como assim? E ele erguendo, aqueles olhos
verdes encantadores e fingindo inocência, cinicamente completou:
Isto mesmo minha bela garçonete! Veja bem... Tu não me servistes um jantar
maravilhoso? E eu: Sim! Então... Eu só pensei que você poderia completá-lo
com uns beijinhos deliciosos como sobremesa! Afinal a sobremesa não faz parte
de qualquer jantar? Dito isto, deu uma risadinha gostosa e estalou um selinho
na minha bochecha pulando rapidamente para trás !
Minha companheira de mesa ( trabalhava-mos em dupla ) não se contendo
deu uma gargalhada dizendo: Aí Flor de Lyz, despedaçando corações heim?
Tentei ficar com raiva, mas, ao olhar pra cara de inocente do conquistador
que brejeiro me paquerava descaradamente de longe, acabei caindo na risada
com as outras meninas, que durante um bom tempo se esqueceram do meu nome
e só me chamavam jocosamente de: " a sobremesa do galã " rsrsrsrsrsrs.
Flor de Lyz
A GARÇONETE
A bandeja na mão...
Um sorriso nos lábios
E um turbilhão no coração...
Entre pratos, talheres,
Copos e guardanapos,
A garçonete faceira e gentil
Vai de mesa em mesa
Oferecendo e servindo delícias
Pra nossa fome saciar...
Sempre alegre e graciosa,
Ninguém pode imaginar
Quantos sonhos passam por sua cabeça:
Uma casa confortável e bonita...
Uma mesa sempre farta...
Um namorado amoroso e gentil...
Poder cursar uma faculdade...
Se formar, e ser chamada de " doutora "
Mas... Enquanto nada disso vem
Ela desfila brejeira,entre as mesas
Com sua bandeja na mão,
Um sorriso nos lábios,
E os sonhos guardados no coração...
E assim, segue a garçonete
Feliz tecendo seu futuro,
Enquanto nos serve cada refeição!
Flor de Lyz
Flor de Lyz, 60.4 anos, nascida em Governador Valadares
Minas Gerais...viveu uma infância pobre, mas, muito rica em
liberdade... cresceu correndo pelos campos, acompanhando e
ajudando a avó a plantar na roça.
Aos cinco anos veio para um orfanato no Rio de Janeiro, e lá
se encantou com as palavras, tão logo aprendeu a ler, começou a
brincar com elas e vivia rabiscando,versinhos em papéis minúsculos.
Mãe solteira... criou a filha e duas netas sozinha e só à bem
pouco tempo, criou coragem de libertar SEUS VERSOS das gavetas
onde viviam aprisionados para publica-los aqui no RECANTO...
Sonhadora, romântica, Ganha a vida como *** Cuidadora social
e artesã *** Como toda aquariana vive mil anos à sua frente ...
Mas, sempre com os pés no chão, e a poesia na alma... Apesar de
continuar considerando seus contos,cronicas e versos como simples...
ESCRITOS DE GAVETAS...
imagens de garçonetes 1 e 2, pinterest; 3, google: musical "waitress" da Broadway com Jessie Mueller e Joe Tippett
foto de Flor de Lyz gentilmente cedida pela autora