Na gaveta dela

Na gaveta ela guardava espelhos

Pelos reflexos engavetados

Ela refletia

Sobre se trancar em cacos

Ou se abrir em reflexos panorâmicos

Na gaveta dela, brilhos de maquiar

Sujavam o espelho empoeirado de escuros.

Escuros profundos que refletiam o fundo da gaveta.

O pó do brilho maquiado finalmente chegou ao seu rosto.

Quando ela se viu no espelho, maquiada.

Refletiu brilhos, reflexos panorâmicos

E escuros profundos.

Ela deixou cair uma lágrima no espelho

Engavetado, agora, refletiu o choro

Empoeirado.

Molhou o espelho que refletiu o escuro engavetado de dentro dela.

De dentro pra fora da gaveta ela aprendeu a se refletir.

De fora pra dentro ela ainda tenta se engavetar.

Trancafiar seus brilhos e abrir seus reflexos,

ela tinha um certo medo.

Os espelhos, refletores de toda a crueldade do mundo, ora guardados, ora expostos,

mostravam de dentro pra fora dela

Que ela,

Refletia

Sobre ela.

E ela sorriu.

Porque se viu no espelho

E se entendeu

De dentro

Pra fora.

Que o brilho refletido nos olhos do espelho.

Era dela.

E a gaveta nunca mais refletiu o escuro de dentro dela

Porque o espelho engavetado cheio de poeira e resíduos de brilho de maquiar

Estava agora

Na parede.

Exposto, aberto a quem quiser ver

E se refletir.

Como ela. Que agora se vê no espelho

E se reconhece.