Laura Júlia de Santíssimo Amor
Ninguém nasce absolutamente saudável,
o que é lamentável,
e ao longo das nossas vidas
há sempre algo a corrigir
e como é bom ter com quem contar
e foi a partir daí
que tive a ideia desse poema.
Sabe, Júlia,
todo mundo é meio doente,
mas tem gente que é doente da alma
e esse é um diagnóstico muito pior.
Pior que dor de dente,
pior que catapora
e bem pior do que a pior dor,
porque é uma doença de falta de amor.
Tem gente que nasce sem um membro,
mas também tem gente que já nasce sem a mãe
ou sem o pai
e aí... ai, ai, ai,
como dói essa dor.
Tem gente que nasce cego,
mas tem gente que enxerga e não vê.
Tem gente que não sabe ler,
porque nunca foi à escola.
Tem gente que pede esmolas,
pois não tem outra saída,
a não ser abrir mão da própria vida,
mas mesmo sendo assim as nossas vidas,
sempre haverá um bom motivo para viver.
Eu não sei nada de você
e você nada sabe de mim,
mas ambos sabemos que o mundo é assim
e quem sabe, enfim,
que se algo de ruim nos acontece,
deve ter sido para provarmos
do milagre da doação, da multiplicação,
pois se há uma fila e gente a espera,
de um órgão que toque melhor e mais forte,
aquela canção que nos faz adormecer,
pode crer,
que também há méritos e critérios de avaliação,
quanto a quem é realmente merecedor,
quem sente mais dor, menos dor,
o que não nos cabe questionar
e quando você precisar de uma mão,
por favor, pode pegar a minha
e necessitar de um pobre coração,
pode vir,
que eu lhe dou o meu.
Você sabia, menina,
que a flor só sobrevive no jardim,
porque alguém doou o solo,
outro alguém doou a semente,
somente pelo prazer de doar,
enquanto alguém mandou que chovesse ali,
para que esse jardim existisse para mim
e também existisse para você,
mas ao mesmo tempo em que
não pertencesse a ninguém
e nem ao jardineiro, que é quem cuida,
mas para cuidar não precisa ser dono,
pois nem quem fez o mundo,
se sente dono de coisa alguma,
tudo isso para nos ensinar,
que não há nessa vida, Laurinha,
receitas perfeitas para se aplicar o AMOR.