A Secretária
A SECRETÁRIA
Miguel Carqueija
Aqui no meu escritório
quem manda mesmo sou eu:
o meu talento é notório
e o tino que Deus me deu.
O meu chefe é competente
mas sem mim ele até surta;
a mulher faz diferente,
não tem paciência curta.
Eu posso ser boazinha
mas se vejo alguém folgando
sei mostrar que tenho tinha:
o patrão tá esperando!
Eu coloco tudo em ordem,
nem que alguém vá apanhar:
homem gosta de desordem
e mulher de organizar.
Faço tudo com amor
e todos gostam de mim;
com meu toque de calor
isto funciona enfim.
Porque as minhas mãos colocam
o mundo para girar:
são secretárias que tocam
tudo para resultar.
Mas trabalho não misturo
com vida particular:
assim eu nunca dou furo
pra quem ama fofocar.
Uma coisa eu me empenho,
trabalhar de forma honesta:
e assim meu desempenho
ninguém dirá que não presta.
Dizem que eu sou um perigo
por ter pernas deslumbrantes;
mas sou casada e nem ligo
para os homens mais galantes.
Por isso não adianta
qualquer don-juan me olhar;
nem me convite pra janta,
vim aqui pra trabalhar.
Não sou secretária burra,
não me atrapalho com nada:
trabalho não me dá surra,
nada tenho de avoada.
Qualquer coisa que eu sugiro
meu chefe vai implantar;
quando as minhas férias tiro
o caos vem pro meu lugar.
Uma coisa que me irrita
é falarem mal da gente:
nada tenho de esquisita,
sei que sou inteligente.
Exerço a minha função
com muita dignidade:
empenho meu coração,
trato a todos com bondade.
Meu cargo tem poesia
que nem todo mundo sente:
trabalhar é uma alegria
que faz muito bem à mente.
E assim eu sigo feliz
pois Deus me deu esta vida:
o trabalho que eu quis
e uma familia querida.
Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2015.
Poema publicado originalmente em 3/3/2015 e ora republicado com a colaboração de Maria Celça.
SECRETÁRIA: "PEDRAS" NO MEU CAMINHO
Maria Celça
Atuei como secretária durante algum tempo e melhor escola eu não poderia ter do que o mundo empresarial e seus dirigentes. Refiro-me não somente às aprendizagens técnicas da carreira, aquelas que um bom curso, aliado à prática, ensina, mas ao desenvolvimento de habilidades que me permitiram sobreviver às mais diversas situações (algumas inimagináveis). Refiro-me, sim, às possibilidades que tive de aprender a dar sempre o meu melhor, em tudo o que eu me proponho a fazer.
Durante a trajetória como secretária, assessorei homens e mulheres, personalidades distintas, uns bons e outros melhores, e posso dizer que aprendi muito com cada um que cruzou meu caminho.
Tive minhas dificuldades, claro, mas saí fortalecida e mais motivada a crescer profissionalmente. Gestores me elogiaram, gestores me fizeram melhor; gestores me fizeram pensar que eu não era capaz, gestores me fizeram chorar; as pedras, algumas vezes, estavam lá, obstruindo a passagem, mas, parafraseando o poeta, catei todas e dei início à construção do meu castelo, que segue em obra, cada vez mais bonito.
E líderes me inspiraram! Mas pra perceber essa inspiração e valorizar o momento de crescer, eu precisava ter passado por todos os outros. Por isso valorizo a cada um, porque todos me ensinaram algo positivo que me guia no que eu sou e no que pretendo ser.
Contudo eu tive, sim, a fase de culpabilizar o outro pelo meu fracasso. Insistia em traçar perfis de gestores e a eles atribuir a responsabilidade pela minha atuação, quando esta não atendia ao esperado. E me reconheci medíocre ao falar mal de um gestor e permanecer ao seu lado; ao reclamar do meu trabalho e não fazer nada para mudar isso.
Por isso, hoje, diante dos discursos de um “profissional” que insistentemente se queixa porque seu executivo “é isso, é aquilo e aquilo outro”, digo: Pare de lamuriar! Sua choradeira não seria um indicador do seu fracasso? Como é que você reclama daquilo que você permite? O que você está fazendo para mudar isso?
Demitir seu superior você não pode, mas se demitir sim. Ah, mas você precisa do emprego, certo? Então aprenda a ser feliz no que realiza e resolva esse problema que é só seu, pois um trabalho infeliz é o que pode existir de pior na vida de uma pessoa (e na de seus colegas, é bom não esquecer esse detalhe).
Maria Celça Ferreira dos Santos - 12/09/17
Maria Celça Ferreira dos Santos
Formada em Letras/Espanhol, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), natural de Uruburetama-Ce, atualmente residindo em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza-Ce. Amante da escrita desde menina, tem um livro publicado "Espelhos" (2011); participou do livro "Encontrei quando menos procurava" com o "Flores do sertão baiano; publica no Jornal o Povo (Caderno especial do Leitor).
imagens 1 e 3, pixabay; 2, dreamstime.com; retrato de Maria Celça gentilmente cedido pela autora.
A SECRETÁRIA
Miguel Carqueija
Aqui no meu escritório
quem manda mesmo sou eu:
o meu talento é notório
e o tino que Deus me deu.
O meu chefe é competente
mas sem mim ele até surta;
a mulher faz diferente,
não tem paciência curta.
Eu posso ser boazinha
mas se vejo alguém folgando
sei mostrar que tenho tinha:
o patrão tá esperando!
Eu coloco tudo em ordem,
nem que alguém vá apanhar:
homem gosta de desordem
e mulher de organizar.
Faço tudo com amor
e todos gostam de mim;
com meu toque de calor
isto funciona enfim.
Porque as minhas mãos colocam
o mundo para girar:
são secretárias que tocam
tudo para resultar.
Mas trabalho não misturo
com vida particular:
assim eu nunca dou furo
pra quem ama fofocar.
Uma coisa eu me empenho,
trabalhar de forma honesta:
e assim meu desempenho
ninguém dirá que não presta.
Dizem que eu sou um perigo
por ter pernas deslumbrantes;
mas sou casada e nem ligo
para os homens mais galantes.
Por isso não adianta
qualquer don-juan me olhar;
nem me convite pra janta,
vim aqui pra trabalhar.
Não sou secretária burra,
não me atrapalho com nada:
trabalho não me dá surra,
nada tenho de avoada.
Qualquer coisa que eu sugiro
meu chefe vai implantar;
quando as minhas férias tiro
o caos vem pro meu lugar.
Uma coisa que me irrita
é falarem mal da gente:
nada tenho de esquisita,
sei que sou inteligente.
Exerço a minha função
com muita dignidade:
empenho meu coração,
trato a todos com bondade.
Meu cargo tem poesia
que nem todo mundo sente:
trabalhar é uma alegria
que faz muito bem à mente.
E assim eu sigo feliz
pois Deus me deu esta vida:
o trabalho que eu quis
e uma familia querida.
Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2015.
Poema publicado originalmente em 3/3/2015 e ora republicado com a colaboração de Maria Celça.
SECRETÁRIA: "PEDRAS" NO MEU CAMINHO
Maria Celça
Atuei como secretária durante algum tempo e melhor escola eu não poderia ter do que o mundo empresarial e seus dirigentes. Refiro-me não somente às aprendizagens técnicas da carreira, aquelas que um bom curso, aliado à prática, ensina, mas ao desenvolvimento de habilidades que me permitiram sobreviver às mais diversas situações (algumas inimagináveis). Refiro-me, sim, às possibilidades que tive de aprender a dar sempre o meu melhor, em tudo o que eu me proponho a fazer.
Durante a trajetória como secretária, assessorei homens e mulheres, personalidades distintas, uns bons e outros melhores, e posso dizer que aprendi muito com cada um que cruzou meu caminho.
Tive minhas dificuldades, claro, mas saí fortalecida e mais motivada a crescer profissionalmente. Gestores me elogiaram, gestores me fizeram melhor; gestores me fizeram pensar que eu não era capaz, gestores me fizeram chorar; as pedras, algumas vezes, estavam lá, obstruindo a passagem, mas, parafraseando o poeta, catei todas e dei início à construção do meu castelo, que segue em obra, cada vez mais bonito.
E líderes me inspiraram! Mas pra perceber essa inspiração e valorizar o momento de crescer, eu precisava ter passado por todos os outros. Por isso valorizo a cada um, porque todos me ensinaram algo positivo que me guia no que eu sou e no que pretendo ser.
Contudo eu tive, sim, a fase de culpabilizar o outro pelo meu fracasso. Insistia em traçar perfis de gestores e a eles atribuir a responsabilidade pela minha atuação, quando esta não atendia ao esperado. E me reconheci medíocre ao falar mal de um gestor e permanecer ao seu lado; ao reclamar do meu trabalho e não fazer nada para mudar isso.
Por isso, hoje, diante dos discursos de um “profissional” que insistentemente se queixa porque seu executivo “é isso, é aquilo e aquilo outro”, digo: Pare de lamuriar! Sua choradeira não seria um indicador do seu fracasso? Como é que você reclama daquilo que você permite? O que você está fazendo para mudar isso?
Demitir seu superior você não pode, mas se demitir sim. Ah, mas você precisa do emprego, certo? Então aprenda a ser feliz no que realiza e resolva esse problema que é só seu, pois um trabalho infeliz é o que pode existir de pior na vida de uma pessoa (e na de seus colegas, é bom não esquecer esse detalhe).
Maria Celça Ferreira dos Santos - 12/09/17
Maria Celça Ferreira dos Santos
Formada em Letras/Espanhol, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), natural de Uruburetama-Ce, atualmente residindo em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza-Ce. Amante da escrita desde menina, tem um livro publicado "Espelhos" (2011); participou do livro "Encontrei quando menos procurava" com o "Flores do sertão baiano; publica no Jornal o Povo (Caderno especial do Leitor).
imagens 1 e 3, pixabay; 2, dreamstime.com; retrato de Maria Celça gentilmente cedido pela autora.