GERALDO – O FILHO DA LUA (Homenagem à Geraldo Azevedo)
Quem é esse filho da lua que envaidece a cantoria?
De chuva ele entende bem, mas a seca o apavora.
A sua alma clara está por todo lugar,
Deitado em corpo celeste, seja de noite ou de dia,
Imaginando a sua sina, no brilho da fé ao luar,
Como a linha do destino, que ele não deixa ir embora.
Seu José Amorim foi sempre um pai tudo de bom,
Casado com dona Nenzinha, de três “As” no nome,
a parideira da estrela, aqui chamada de lua,
ensinando na escola Jatobá logo o primeiro tom,
vendo nos primeiros passos uma esperança sua,
cuidando com todo cuidado, Azevedo é o sobrenome.
O brilho da concertina saiu lá de Petrolina
Um âmbar que traz na senda um cantar bem nascituro.
Revelando ao véu da noite, o clarão de um dia branco,
Trazendo de volta às claras, a poesia nordestina,
cantada em versos e prosas, como num cavalo manco,
sempre presente em seu tempo, o passado e o futuro.
Filho da lua por quê? Está sempre céu acima,
Descobre o som do sertão, da mãe-Terra generosa,
Na ditadura da paz, pela linha do equador,
Segue ainda no equilíbrio, vivendo e cumprindo a rima,
Por pura imaginação, em versos de um cantador,
Mas também não sei se é, deixando a vida formosa.
Foi no Ginásio Dom Bosco, que a dona da sua cabeça,
Com um cheiro feminino, cheio do brilho da fé,
Fez passarinho cantante ter saudade de alguém,
aprendendo a assoviar, para alguém que lhe mereça,
Soltando as suas palavras, num teimoso vai e vem,
Barradas pela censura, navegou contra a maré.
Foi dentro do Velho Chico, que lançou sua semente,
Onde primeiro pisou, na terra do querer bem.
Seguiu depois pra Recife, fez raiz no carnaval,
Mas nunca esqueceu a mãe, lua nova e incandescente.
Quem corre muito não para, voa mais que um vendaval,
Se não há porto seguro, futuro não há também.
É o Filho da lua que promete o sol em brasa,
Nascido no escuro da lua, para não ficar galego,
Da lua nova no parto, passou a quarto crescente,
Cantando na lua cheia, e o coração em sua casa,
É o cavaleiro errante, que pediu todo contente,
À lua quarto minguante, que ao beija-flor dê sossego.
Sonho, amor e desengano fez na forma de um tripé:
Cantou e tocou na noite, os prantos da alma perdida,
Insistiu com sua musa, mas ela não acredita que é bonita,
Levando o espelho do mar, mas também não diz que é,
Prefere reparar no cais, a caravana que grita,
venha musa para o mar de águas claras da vida.
Como uma pedra de gelo ao sol faz tristeza degelar,
Os olhos que eram tão sós, mostrou sua paciência,
Ouvindo o barulho que vem do som da clave de sol,
Viu sangue jorrar na terra, e os cabelos ao mar,
num bicho de sete cabeças quando viu um girassol,
e com as letras e canções construiu sua resistência.
Viu Armstrong pisar na sua casa outro dia,
No céu onde foi criado, pela mãe de um sonhador,
Renascendo mais teimoso, comendo pirão de angu,
O homem foi carregado, nos braços da poesia,
Protegendo como espinhos, na seca um mandacaru,
Que teimava em sua sanha, deixar brotar linda flor.
A manivela que empina as estrelas num alforje,
é a mesma que obedece aos seus acordes sonoros.
E os vigilantes das horas vão cuidando do seu sono,
Debelando a cada dia um dragão pelo São Jorge,
Pois a lua não tem nome, para ninguém ser o seu dono,
E no som do violão traz o amor pelos seus poros.
Nunca deixe de sonhar Pernambucano inxerido,
Cante e seja conquistado pela galáxia da rua,
Passe a ser conquistador das portas do Universo,
se cansar volte pra casa, não vai ter tempo perdido,
pois a mãe lua clareia suas noites mais escuras,
e sempre será feliz, no coração da mãe lua.