O TEMPO NA FACE DE MEU PAI

Na face de meu pai

Vejo as marcas do tempo, do sol, do labor.

Vejo um homem do espaço de onde veio.

Vejo os abraços que ele não teve de seu pai.

Vejo os afetos não trocados com os seus.

Vejo a força consumida num trabalho bruto,

Vejo a mesma força que já o abandona.

É tarde, o crepúsculo anuncia a vida que declina.

Um gesto de carinho, descoberto no baú de lembranças,

pinçado no divã do analista: o pão embaixo do braço,

embrulhado em papel pardo.

Um som – o da gaita - gravado na fita cassete.

Este homem foi o ser que a vida possibilitou ser.

As marcas no rosto de meu pai falam da existência

que ele pôde ter, falam de dias que não voltam mais.

Mas ele nem parece preocupado com isso,

Vive joaquinamente, do seu jeito peculiar,

esses dias, quase noite, de Joaquim.

Diana Gonçalves

10/08/2007 – 16:25 hs. - Poesia on line – Meu pai