UMA VOLTA AO PASSADO

Na casa da minha mãe,

dia de festa

tinha doce gelado.

Sentávamos juntos,

e servíamos o prato,

da mesa farta.

Na casa da minha mãe,

um esperava

o outro terminar de comer.

Não fazíamos orações,

mas agradecíamos, satisfeitos.

Questão de educação.

Na casa da minha mãe,

havia organização,

estabelecia-se horários.

Tudo era caprichado,

tudo era em torno dela

senão...

Não se respondia,

apenas

se deliciava.

Lei da Compensação.

Tricô ao lado,

a gente conversava.

Ela ria das minhas "manobras"...

Na casa da minha mãe,

tinha tudo

e eu, um dia, saí.

Procurar a vida,

construir meu caminho.

Lei do Livre Arbítrio.

Hoje, as lembranças voam,

em, asas de anjo negro.

Quebradas, sedenta daquelas "manobras".

Uso as regras que aprendí,

mas abrí mão do direito de existir:

nada é mais como na casa da minha mãe.

Tornei-me o anjo do ódio,

da negra repulsa da sociedade

em negar aquele que é honestamente negro.

Escondo o vazio

de viver lembranças

da casa da minha mãe.

Um dia, eu volto.

e, como sempre, encontrarei um abraço.

Lei do Resgate.

No alto, eu, o anjo dedicadamente negro

de consciência limpa e alma lavada,

voltarei redimido, para a casa da minha mãe...

Quem sabe, se for dia de festa,

poderei descansar meu corpo, comendo doce gelado:

Lei da Desmaterialização.

palavrasdeesgoto
Enviado por palavrasdeesgoto em 06/08/2007
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