UMA VOLTA AO PASSADO
Na casa da minha mãe,
dia de festa
tinha doce gelado.
Sentávamos juntos,
e servíamos o prato,
da mesa farta.
Na casa da minha mãe,
um esperava
o outro terminar de comer.
Não fazíamos orações,
mas agradecíamos, satisfeitos.
Questão de educação.
Na casa da minha mãe,
havia organização,
estabelecia-se horários.
Tudo era caprichado,
tudo era em torno dela
senão...
Não se respondia,
apenas
se deliciava.
Lei da Compensação.
Tricô ao lado,
a gente conversava.
Ela ria das minhas "manobras"...
Na casa da minha mãe,
tinha tudo
e eu, um dia, saí.
Procurar a vida,
construir meu caminho.
Lei do Livre Arbítrio.
Hoje, as lembranças voam,
em, asas de anjo negro.
Quebradas, sedenta daquelas "manobras".
Uso as regras que aprendí,
mas abrí mão do direito de existir:
nada é mais como na casa da minha mãe.
Tornei-me o anjo do ódio,
da negra repulsa da sociedade
em negar aquele que é honestamente negro.
Escondo o vazio
de viver lembranças
da casa da minha mãe.
Um dia, eu volto.
e, como sempre, encontrarei um abraço.
Lei do Resgate.
No alto, eu, o anjo dedicadamente negro
de consciência limpa e alma lavada,
voltarei redimido, para a casa da minha mãe...
Quem sabe, se for dia de festa,
poderei descansar meu corpo, comendo doce gelado:
Lei da Desmaterialização.