A Órfã

ÓRFÃ
Miguel Carqueija



Foi nas trevas do passado
que a minha alma larguei,
e o Tempo foi apressado
afastando quem amei.

E sigo agora sozinha
arrostando o meu destino,
sentindo-me pobrezinha
mas conservando o meu tino!

Tive um dia mãe e pai
e pessoas que me amaram
e hoje, sem dar um ai,
vejo que os tempos mudaram!

Ó Deus, eu clamo do abismo,
anos, décadas virão,
que será de mim, eu cismo,
no olho do furacão!

Não queira perder os pais
numa tão tenra idade;
não haverá quem dê mais
na Terra a felicidade!

Feliz quem pode dizer
que viveu a sua infância
co’amor a mais não poder,
e agora só na distância

do tempo eu recordarei,
pois fui feliz sem saber
e em vão procurarei
melhor forma de viver!

A família dispersada,
o amor não encontrado,
eu me sinto abandonada
e o coração magoado!



Por que mamãe, foste embora
quando eu mais te precisava?
Você, que vinha na hora
em que eu triste chorava?

Mas adivinho a razão,
pois papai te esperava;
coração com coração,
como este casal se amava!

Fui eu quem ficou de fora,
com o nosso cachorrinho;
e ao romper da aurora
seguimos nosso caminho!

Mas ele também se foi
e eu fiquei só na estrada;
e olhando um carro de boi
tive inveja da boiada!

Que coisa triste é viver
no meio da multidão,
tentando sobreviver
mas curtindo a solidão!

Sim, filhos eu quero ter
e um marido também,
desde que eu possa viver
e chegar com ele aos cem!

É muito triste pensar
em partir pra outra vida
e ao mesmo tempo deixar
uma criança querida!

Enquanto isso, rezando,
pedindo a Deus força e luz,
eu seguirei caminhando
tendo em meu peito Jesus!



(6/12/2016)



ORFANDADE GRITANTE

Maria Celça



Estaria bem mais segura se soubesse que no fim da tarde, ao voltar pra casa, ela estaria lá, pronta pra me ajudar, com suas palavras de ânimo, e que assim eu teria coragem para vencer meus medos e enfrentar os problemas de forma mais corajosa.
É que por seu amor tudo me parecia resolvido. 
Eu tinha que ter aprendido mais com minha mãe! Ela era tão forte e eu sou tão frágil...
E hoje, especialmente hoje, tão pequena, tão perdida...



(fotografia gentilmente cedida por Maria Celça)

Maria Celça Ferreira dos Santos
Formada em Letras/Espanhol, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), natural de Uruburetama-Ce, atualmente residindo em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza-Ce. Amante da escrita desde menina, tem um livro publicado "Espelhos" (2011); participou do livro "Encontrei quando menos procurava" com o "Flores do sertão baiano"; publica no Jornal o Povo (Caderno especial do Leitor).
 





imagens: moça à beira da praia, pixabay; 
capa do livro: romance de minha autoria, passado em parte num orfanato; editado pela Giz Editorial de São Paulo-SP.