Belfort

Se eu pudesse escrever

escreveria um poema mensagem

que comprimisse na geometria do tempo

as assimetrias dos paralelos que nos distam

que me ligasse eternamente

ao teu meu sofrer

Se eu pudesse escrever

escreveria um poema d´amor e saudade

de tédio e festa

escreveria um poema que falasse

dessa dor mística

crescendo ao longe perto de mim

no apicifloro do frio atlântico

linha ténue que nos separa

Se eu pudesse escrever

escreveria um poema canção

para que o cosmos se apiedasse de nós

e cantassem em todas constelações

a nossa dor intempestiva

até ao calípico, tempo inerte

em que Vénus Eva

não mais plantasse cílios

nos sentimentos diásporas

Se eu pudesse escrever um poema

escreveria-o a punho-ferro

pedindo armistício à Califa

para que te faça voar no mecanismo

da rápida luz vida

transeunte de teus meus versus

que repousa na calmaria densa

de uma duma vida austera

onde esperamos desesperados

cada segundo pela diástole

de teu meu coração

nesse eu nosso inventado

Se eu pudesse escrever um poema

excretavasse essa dor útero

germinante na imaginação real

duma lágrima de alegria solta

na distância magnetizante do tempo

embrião ordovícico

parido na calada madruga

Se eu pudesse escrever um poema

escrevia-o para si nós

nele essas vontades

desejos e teoremas

na noética das minhas tuas chagas

laranjais primaveris

de um plural singular

de uma bindade

que vence as quiliarquias

do denso azul atlântico

linha ténue que nos separa

Seu pudesse escrever um poema

não seria um poema

seria uma carta heróica

para um amor distante

seria essa dor em letra

uma Meca triunfante

Seu pudesse escrever um poema

não seriam letras e palavras ordenadas

a hastearem a bandeira dessa dor

não seriam rimas a fazer os ritmos

desse cântico-alegre

seriam sim

fies em procissão apocalíptica

pelos meus sentimentos diásporas

seriam o tilintar da água no tejadilho

desta nave em que viajo

a fazer os ritmos de cântico litúrgico

à dor deusa arritmia

Se eu pudesse escrever um poema

não seria poema

seria a síntese do tempo-distância

binómio eternizado na longas noites

vividas acesas nos arquipélagos dos dias

seria uma mensagem retrato

da nudez da tua poesia

mostruário de generosidade

cátedra do humanismo solidário

que brota do teu coração flor

amapholla que exala fragor

antídoto para o meu contrito

coração

Se eu pudesse escrever

escreveria não um poema

escreveria uma mensagem

de liberdade de solidariedade

livre das rimas e da métrica

e da grama árctica enclausuradora

escreveria para para Ti VILMA BELFORT

uma mensagem em dez estrofes

e tantos veros...

Dedicado a minha amiga

04/08/07

Vilma Belfrot

Mabaka
Enviado por Mabaka em 04/08/2007
Reeditado em 05/06/2010
Código do texto: T592123
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