PUÇANGA

O que eu não daria

por esse par de olhos

e por esses olhos

o que eu não faria...

Talvez neles mergulhasse por inteiro

para assim conhecer

o que há por trás desse verde marinho

que parece sempre brilhante

como se fosse um mágico luzeiro...

Talvez, menino,

corresse ao longo dessas retinas

-imensas campinas –

onde medram todos os sonhos

para no fim, bem lá no fim,

descobrir a minha alma,

que ali sempre estivera,

por ser irremediavelmente perdida

por esse par de olhos...

O que eu não faria

por esse par de olhos...

Talvez os pintasse.

Talvez os esculpisse.

Talvez os fotografasse

ou, ainda, não fizesse nada...

Quem sabe ,com medo de perdê-los,

eu os meus fechasse para sempre

morrendo sob um enorme pesadelo...

Quem sabe os apreciaria

normalmente

ou tornar-me-ia dependente

da mágica força telúrica

desses olhos inocentes

onde, quem sabe,

vivo buscando as mesmas margens,

as mesmas paragens,

já tanto vezes vistas

mas quando sob a influência desse verde

apresentam novos matizes...

O que eu não faria

por esse par de olhos

e por esses olhos

o que eu não daria...

O que não daria

para olhar

pelo olhar desse olhar

que me impressiona,

que me pressiona

e quase me tira a razão.

Olhar de deusa,

olhar de mistério,

olhar de bruxa,

que é puçanga forte para todos os meus males

principalmente os do coração...

Belém, 26 de agosto de 1984