Paz interior
Estar tranqüilo quando tudo está bem é fácil. A verdadeira serenidade é conviver com os problemas malsãos sem deixar que isso nos perturbe tirando-nos o sono. Quando tudo ao nosso redor está desmoronando, é que podemos testar a nossa serenidade.
Não se consegue ser sereno da noite para o dia. A conquista da paz interior é lenta e gradual. Requer excelsa beatitude e muita fé.
Não há razão para termos medo das sombras. Escuridão indica e prova apenas que em algum lugar próximo brilha a luz textualizada pelo bem-estar perseguido.
O pessimista queixa-se do vento e da chuva recalcitrante, o otimista espera que ele (o vento) mude mostrando a calmaria e segurança da paz; já o realista ajusta as velas, adequando ao tempo para um velejar seguro. Considero-me um realista!
Vou mais além: quando não conseguimos encontrar tranqüilidade dentro de nós mesmos, de nada serve procurá-la noutro lugar. Sabemos que os anos ensinam muitas coisas que os pequenos instantes desconhecem.
Afinal, Por que a zanga? Zangando-se, incomoda os outros, incomoda-se... e por fim tem de se acalmar caso queira a conquista da paz interior lastrada em planos edificantes.
Não se confunda paz interior com o maléfico comodismo. Para adquirir a serenidade é necessário cultuar as virtudes teologais no sentido de modificar o comportamento familiar e social; ter persistência, ousadia, humildade e, sobretudo, muita paciência, pois a paz interior só é conquistada aos poucos e ao longo do tempo, mormente se houver uma perda sofrida, crudelíssima, não desejada, irreparável.
Não nos esqueçamos: quem perde uma paixão ou os seus bens, perde muito; quem perde um amor, uma boa amizade, perde mais; mas quem perde a dignidade, o sagrado direito de ser gente, a coragem, a fé, a serenidade, perde tudo... perde até a vontade da conquista da paz interior.
O tempo passará depressa. Séculos, talvez milênios tenham passado, mas quando nos deleitarmos no esperado reencontro, tão sonhado, minhas cicatrizes estarão à amostra! Todos poderão enxergar em meu corpo escanifrado as marcas de amor deixadas pelos arroubos incontidos de nossa louca devassidão aspirada e não concretizada.
Mas você, apenas você, saberá que eu me feri e também me curei porque busquei o cume da montanha sem pejo do ridículo, sem dar ouvidos à lógica da conveniência, sem dar a mínima importância às pedras do caminho na representação da hipocrisia social.
Eu a perdi! Você não quis ser minha amante nesta dolorida reencarnação. Não me ufano, não estou sofrendo porque em compensação conquistei a justa e merecida paz interior.