A Andarilha

A ANDARILHA
Miguel Carqueija


Quando caminho na estrada
me sinto uma heroína:
leve, alegre, libertada,
muito mais que uma menina!

Às vezes até descalça
vou pela estrada infinita,
e a minha alma se alça
como uma nuvem bonita!

Com os pés sujos de poeira
e o rosto limpo de chuva,
lá vou eu aventureira,
dizem que eu sou uma uva!

O que é que me atrai enfim
e me faz deambular
por este mundo sem fim
caminhando até cansar?


Não corro como Forrest,
prefiro andar sem pressa
do leste até o oeste,
pra que vou correr, sem essa!

Existe um grande fascínio
em percorrer a distância
sendo o mundo o meu domínio!
E eu caminho com elegância...

E contemplo a natureza,
borboleta e passarinho,
me faz bem esta beleza,
olhar pra tanto bichinho!




As avezinhas no ninho,
as barreiras verdejantes,
tudo eu vejo com carinho
e cumprimento os passantes...

E nos meus dias de folga
lá vou eu a passear,
quem se espanta é a tia Olga:
— Que gosto pra caminhar!

E peço à Virgem, proteja
a sua filha na estrada;
e com carinho me veja,
me conduza agraciada.

Quem tem Deus no coração
não sente medo de nada;
confio na oração,
na minha mente alertada.

Eu vejo na minha frente
todo um mundo a conhecer:
alimento a minha mente,
me divirto pra valer!

Andar é bom pra saúde,
qualquer médico atesta:
caminho junto ao talude,
sentindo o vento na testa...

Acaricio a plantinha,
molho no riacho os pés;
faço festa em cabritinha
que me saúda com “bés”!

Já ajudei gente na estrada,
banquei a samaritana:
levei uma acidentada
para a Clínica Santana...


Mas nem vou muito distante,
pois não disponho de asa;
e feliz, bem radiante,
volto agora para casa!



25/9/2016





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