A Trapezista

TRAPEZISTA
Miguel Carqueija


Eu desafio o abismo
e posso quase voar:
pois quando fiz Catecismo
aprendi a confiar

em Jesus e em Maria
e de Deus a proteção:
pois em meu lar sempre havia
muita fé no coração.

Tenho que ser corajosa
neste trapézio oscilante:
dizem que eu sou charmosa,
uma garota elegante,

mas isso não conta nada,
é o equilíbrio que vale:
e não posso dar mancada,
só o movimento que calhe!


Já trapeziei sem rede,
desafiando a morte;
às vezes com fome e sede,
a Deus confiando a sorte!

Balançando na altura,
trocando com a companheira,
olho o povo com ternura,
me sinto uma aventureira!

Que pássaro sem pluma e bico!
Anjo mortal que balança;
às vezes com medo fico,
e até onde a vista alcança

vejo a platéia transida
de medo e espectativa:
me sinto muito querida
e todos me querem viva!




Ao saltar estendo a mão
e alcanço o companheiro:
tem que ter concentração,
e cálculo verdadeiro.

Em baixo o povo em suspenso
aguarda para aplaudir;
ninguém deseja, assim penso,
ver qualquer de nós cair!

É um mundo de fantasia,
negamos a gravidade;
pouco falta pra magia
em tanta temeridade!

É uma estranha sensação
como um estranho poder:
com a própria vida na mão,
isso é emoção pra valer!

Procuro tranquilizar
os entes queridos meus;
mamãe, podes relaxar,
pois estou nas mãos de Deus!

Numa fração de segundo
com os dedos seguro a vida:
mas pra mim em todo o mundo
é a profissão mais querida!

Com o circo eu vou viajando,
levando a minha mensagem:
a todos emocionando,
amando cada viagem!

Meu corpo é meu ganha-pão
e tem que manter leveza:
cada pé e cada mão
garantem a minha mesa!


(6/7/ag./2016)


imagens pixabay


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