A Feirante

A FEIRANTE
Miguel Carqueija


Coma verdura e legume
para ficar elegante:
adquira esse costume,
procure aqui na feirante!

E fruta eu vendo também:
aqui tem pera e maçã!
Compre comigo, meu bem,
repolho, couve, hortelã!

E abóbora, almeirão;
alho, cebola, abobrinha;
até arroz e feijão,
milho, cará, cebolinha!

Aqui tanta gente passa,
e tem tanta agitação,
vendem até uva passa,
tem a moça do limão!



Não é facil esta vida,
pois tem que ter muita garra:
acordar cedo pra lida,
levantar até na marra!

Minha mãezinha querida
quase me puxa da cama:
acorda que é hora, Cida,
senão depois não reclama!

A mãe tem sempre razão:
trabalhar é coisa séria!
Tem que ter disposição
pra garantir sempre a féria!

Mas sempre fico contente
de vender bastante, epa!
E a tarde nunca desmente:
vem sempre a turma da xepa!




Sabem, até tenho pena
mas vale a economia
por mais que seja pequena
assim diz a minha tia!

Movimento aqui não falta
e não gosto na verdade
se a verdura está em alta,
tem muita necessidade!

Pobre precisa comprar
as coisas bem baratinhas:
freguesas vejo passar
maltrapilhas, coitadinhas...

Quando posso eu até dou
algo sem nada cobrar
e assim para o Céu eu vou,
Deus vai me recompensar!





Pois me dói o coração
vendo tanta criancinha
com fome, de pé no chão,
cada uma tão magrinha...

Olha leva essa batata,
que aqui vai mesmo sobrar:
eu sei, você sempre cata
mas pode te adoentar

pegar coisa já no chão
e que já está estragando
olha, te dou este mamão
que aqui está encalhando!

Eu sempre vou para casa
com a consciência limpa,
e a minha fé me abrasa,
e assim a vida é supimpa!



29.7.2016








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