A Viúva


VIÚVA
Miguel Carqueija


Nas brumas do meu passado
há algo que eu não esqueço,
um amor tão delicado,
foi algo que eu nem mereço.

A ele eu dediquei
o meu amor de mulher:
e nunca pra outro olhei,
pois jamais trai quem não quer.

Quatro filhos nós criamos,
tão amorosas crianças;
aos quatro nós muito amamos,
foram nossas esperanças.

E lutamos pela vida
com trabalho esforçado;
e foi grande a nossa lida
e tudo recompensado!



Lembro como ontem fosse
nosso tempo de namoro:
partilhamos até doce,
nos amamos com decoro.

Caminhamos de mãos dadas
por tudo quanto é caminho:
foram horas tão amadas,
quanta troca de carinho!

Nós fomos tanto ao cinema!
Ao teatro, a cada show!
Hoje pra ir é um problema:
sem vontade eu já não vou!

Sem aquela companhia
que sempre foi meu emblema
eu sinto a vida vazia,
e eu vivo neste dilema:



devo enfim recomeçar?
Rebobinar minha vida,
a outro amor procurar,
que me chame de querida?

Meu amor, ao despedir
de ti lá no cemitério
a Deus só pude pedir:
sê feliz lá no mistério!

Porque eu sigo sozinha,
por nossos filhos amada,
sinto-me uma pobrezinha
por você aqui deixada!

Vou carregando esta dor
mas sei que um dia estarei
junto a você, meu amor
com Jesus que é o nosso Rei!





Que Maria me console
e me dê conformidade,
não quero bancar a mole
mesmo morta de saudade!

A vida enfim continua
numa rotina sem fim:
dentro de casa ou na rua
ninguém resolve por mim:

assim tenho que ser forte
e verdadeira mulher:
suportar até a morte,
seja como Deus quiser!

O mundo tem alegria:
criança, flor e bichinho:
não preciso ficar fria,
pois recebo e dou carinho!


12/7/2016



A VIÚVA

Viúva que é mãe
passa a ser pai
o que antes
já era eclética
trabalha por dois
três ou quatro
ou às vezes por mais
os punhos viram aços
a voz fica mais firme
de repente vira artista
acrobata, malabarista
tem todas as profissões nela
ainda tem que brincar de casinha
jogar bola e ser mulher maravilha
contar historinhas pra dormir
e certamente dormia junto
jornada dupla, tripla
e a noite desaba de vez
o tempo livre?
quando pode, pega o notebook.
e desabafa pelo dia\agitado e abençoado...\\*MELRIS*

(Marli Caldeira Melris)








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