Ao Poeta: Testemunha da vida.
Alma asmática
Faiscando na escuridão.
Medo não é ilusão,
É o monstro mítico
Criado pela alma.
A esfinge devora sem pestanejar
A carne pagã do poeta.
Quimera morre engasgada
Em meio tantas metáforas,
O poeta rompeu as entranhas da fera.
Cheio de sentimentos – anedotas
Habitando entre os mortais.
Poeta andarilho.
Sonhos ao acaso...
Poeta mistificado.
Pagão indecifrável...
Poeta louco emergindo nas trevas e sucumbindo na luz.
Maldita redoma de carne pensante!
Poeta profano-divino;
Cálice a transbordar em sangue e lágrimas.
Chagas da alma, remorso cínico de peito fatigado,
Jazendo no sepulcro da carne seus amores e desamores.
Poeta pluralístico...
Mil façanhas, inúmeras estradas,
Contador de metáforas reais pelo mundo á fora.
Nada aqui é rancor ou glória.
Tudo em si é sagrado e profano.
Verídico em cada dor.
Nunca mentiria a falar sobre o amor.
Eterno Poeta amante de Clio.
Andarilho perdido no mundo da mentira.
Conta o que viu, sentiu e ouviu.
Confessa a vós em ironias e metáforas,
A vida dos homens e mulheres em tempos inglórios.
Em glória, palpáveis feitos suas vidas descritas.
Na caligrafia rota, historiador a escrever fatos reais,
Nos tempos em que tudo se tornou banal.
E hoje mais uma morte passa.
Continuamos aqui até o drink secar na garganta,
Esperamos a noite terminar.
Todos irem embora.
E as histórias ficarem nas memórias,
Cintilando no espaço feito o brilho de estrelas mortas,
Epopeias dos acontecimentos mundanos,
Fontes; documentos, fotografias, áudios, vídeos, memórias, oralidades.
Hoje ninguém mais aprecia um drama.
O sarcasmo é mais confortador que a seriedade,
Não a nada melhor que rir da tragédia,
Quando esta não nos atinge.
A vida não se estaciona.
Não se concluí,
Apenas não segue o mesmo ritmo que o nosso.
Todos tão apressados, menos eu...
Paro. Olho todos os lados,
Sinto cada dor, temor, felicidade, alegria.
Bebo meu drink, nele sinto o sabor de lágrimas salinas,
[passadas.
Beijos jogados em vão no ar.
Coração que pulsa em mim,
É sintoma de corações alheios apaixonados, decepcionados.
Bilhetes esquecidos...
Celulares; mensagens descartadas,
Antes se queimavam cartas ou rasgavam-nas,
Era tudo tão intenso...
Hoje ainda é dramático,
O lado cômico de mãos dadas com o sarcasmo,
Tudo fica mais fácil de esquecer.
Onde existia amor,
O rastro é desamores,
Fragmentos de rumores pelo ar.
Não posso seguir todas as pistas,
Entretanto isso ainda me excita.
Como posso ser mesquinho em repudiar a vida?
Se, sento na arquibancada e observo espetáculos de outrem.
Poeta...
Testemunha do mundo.
Tudo sinto e nada me sente.
Resenho sobre as cenas,
Enquanto outros aplaudem,
Trago o cigarro apenas pelo tédio.
Não careço de flores nem aplausos,
Apenas aprecio o que poucos não enxergam.
Poeta...
Eterna testemunha das idas e vindas dos personagens carnais no palco da vida,
Observo-os sentado na arquibancada tentado com suas estórias.