A Morte Do Trovador ( Vander Lee)

Percebo que pouco a pouco

A vida que se me faz fugidia

Desperta meu desejo louco

De pensar na morte todo dia.

Não trago mais aquele fogo

Aceso dentro do peito. A pira

Funerária envolve meu corpo

Na mais vívida e vil melancolia.

Passo dias e noites recordando

A querida e mais pura puerícia.

Nisto sinto correndo o pranto

Nascente nos olhos sem alegria.

Então vem minha outra metade

A parte que mais aprecio e amo

Digo-lhe o tamanho do desengano,

Do tanto que sentirei dela saudade.

Feito o pegureiro sem a rota correta

Beijo os lábios daquela boca veludosa

Assitos a rubra face, ficando cor-de-rosa

Sendo assim, pego do papel e da caneta

E vou contando cantado a nossa história

Do tempo que se foi e vai nos devorando

Dos nossos dias tristes e os dias de glória

Beijo-lhe a boca novamente, chorando.

Nauta na partida, náufrago sem porto

Sou o eterno amante, eterno peregrino

Assisto partindo dentro de mim, o menino

Vejo meu corpo jaz numa louça, morto.

O pranto nostálgico banha o rosto meu

Machucado e ferido fica o pobre coração

Olho os úmidos olhos agigantados teus

Que vertem mil lágrimas por mim, em vão.

Busco repouso e amparo no teu regaço

Descanso a tristeza estampada na fronte

Feito um pássaro preso em visgo, em laço

Fito, já longínquo, o meu mais Belo Horizonte.

Desfazem-se elos. Dissipam-se tempestades.

Aquieta-se, sossegado, o senhor do oceano.

Sacodem as asas um casal de lindos anjos

Que ninguém jamais saberá as suas idades.

No futuro, atrás do muro, um vagido de dor

Que geme e se contorce sobre a lápide infeliz

Que, com a voz embargada, soluçando, diz:

Adeus! Adeus! Morreu meu maior... Trovador!

Homenagem ao cantor e compositor mineiro, Vander Lee, morto hoje, aos cinquenta anos de idade por complicações cardíacas.

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Gil Ferrys
Enviado por Gil Ferrys em 05/08/2016
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