QUEM TEM MÃE, NUNCA ESTÁ SOZINHO
(Para D. Nerô, minha mãe.)
Quando as nuvens ainda estão distantes
e o vento ainda não se fez presente,
ela já discerniu os sinais
e preparou o guarda-chuva e a capa;
quando a gripe é somente um pigarro
e nem os anti-corpos a detectaram,
ela já procurou o xarope e o casaco;
quando a distância separa seus olhos
do objeto do seu desejo,
as linhas celestiais já estão congestionadas
de pedidos e orações;
quando a saudade é tão grande
quanto o aperto em seu coração,
ela já viu e reviu as fotos e cartas antigas,
buscando consolo;
quando o problema é só uma ruga apagada
no centro da testa,
ela já sabe que algo não vai bem;
quando a decepção estampada no rosto
parece abalar a auto-estima,
ela vem, com palavras de incentivo e sabedoria;
quando a dor turva o sorriso querido,
ela sente, e a dor lhe dói em dobro...
E não importa a idade, o tamanho,
a cor, a opção sexual, a religião...
ela tem sempre um colo para oferecer
e uma palavra para consolar.
Quem tem mãe, nunca está sozinho...