Estrada
Estrada, tão longa estrada
Para onde me levará?
Estrada, tão sinuosa estrada
Como devo lhe chamar?
Há dias em que duvido de ti
Devorando me as sandálias
E me sujando de cima abaixo
Um dia caminhando por aí
Vi uma flor em meio a poeira
Branca como a cor de tua pele
Um hibisco duro demais para o verão
Um resquício isolado de beleza
Em um chão seco e petrificado
Ninguém disse que seria fácil florescer
Mas a natureza sempre tratou de prover
Estrada, tão dura estrada
Devoradora de sonhos e de homens
Você está faminta, sempre esteve
A sua fome não pode ser saciada
Nem por um milhão de andarilhos
Mas você não sabe disso, nunca soube
Um dia vou trazer um bocado de gente destemida
E você vai se engasgar em sua gula infinita
Vamos entupir o seu sistema digestivo
E navegar por todas suas veias e artérias
Vai ser uma festa daquelas inesquecíveis
Vamos descobrir os teus segredos mais profundos
Vamos descobrir cada curva tua sem deixar nada passar
Até mesmo as belas paisagens que com tanto cuidado escondeu
E você vai se sentir nua, a nudez mais bela já contemplada
Estrada, tão árdua estrada
Você é dura, tão dura
Mas será dura o bastante?
Eu acho que não.