O VIÇO DA LIBERDADE
– Ou O sonho de Abril –
“Dedicada a Conceição Oliveira”
Em fresca noite de primavera eu sonhei
Que estava passeando pelo meu jardim
E contemplava aquelas flores que plantei
Há muitos anos, por iniciativa de mim.
Sim, fui eu que as plantei com luvas de cetim
E agora neste meu sonho apenas recordei
Aquela árvore gigante do meio do jardim
Florida e perfumada que um dia reguei.
No meio de canteiros muito variados
Lá estava sempre a árvore, altaneira e viril,
Folhas verdes e largas e frutos doirados
Que, por ser primavera, lhe chamei Abril.
Ali, debaixo daquela sombra, fiz poemas,
Os meus primeiros poemas que alguém negou,
Porque o jardim não era lugar pra dilemas
Mas era sonho … e aquela noite terminou.
(Sem garra, sem persistência – cravos não se viam –
Naquele jardim, com flores de franca qualidade,
Deixaram morrer os cravos que ali cresciam
Porque a sombra da árvore lhes matou a liberdade.)
Agora há cravos… mas pouca água para regar
E a árvore, que poucos frutos tem para colher,
Pede mais água aos poetas, num fiel versejar
De pura LIBERDADE, com viço para crescer!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA