Umberto Eco
Um novo eco
Ontem a história da beleza
ganhou um novo eco
porque morrer é belo
e o diário mínimo
ou máximo da existência
só se consuma perante a morte.
O nome da rosa rebrotou
nos seis ou milhões de passeios
pelos bosques da ficção espalhados pelo mundo,
quando o homem que ensinou
como se faz uma tese
concluía a sua,
a outra, a grande tese,
sem qualquer exaurimento...
Porque a obra é aberta,
mesmo se considerarmos
os limites da interpretação,
e o pêndulo de Foucault
continua em movimento.
Não se espere que
o cemitário de Praga guarde o corpo
embora nele e em cada feito
remanesçam vestígios da vida
dedicada a contar a história
e a documentar a arte.
É quesito de justeza
que as obras de Da Vinci e Michelangelo o acolham
lá onde seus olhos as testemunhavam,
da janela de sua morada.
A nós,
em tudo o que nossas retinas viram através e por causa das suas,
no brilho de nossos cristalinos,
sejamos confortados com o exercício da última obra,
o número zero,
os mistérios, as loucuras
e toda a sutileza que há no ponto
do círculo onde se encontram
o início e o fim.
Mas não contem com o fim do livro.