A Caixa de Loja

A CAIXA DE LOJA
Miguel Carqueija


Meu trabalho é envolvente
e muito movimentado:
vejo tudo quanto é gente,
tenho colegas ao lado!

E pego a mercadoria,
passo o código de barra;
o pente, o livro, a bacia,
o devedê ou a jarra,

tudo tem que ter seu preço
e forneço a sacolinha;
me recompensa o apreço
que demonstram por euzinha!

Sabem, onde tem comida
é um prazer trabalhar:
se tem bala colorida
isso até eu vou comprar!

Trabalho com devoção
comendo um “Sonho de Valsa”,
pernas por trás do balcão,
ninguém vê que estou descalça!

“Cream-cracker” é gostoso
e aqui tem muita saída;
e o cereal saboroso
leva a freguesa sabida!

Bem, não posso ser gulosa,
pois tenho que trabalhar:
quero ser magra e charmosa
e meu sorriso mostrar!

Livro eu gosto de vender,
isso é bom incentivar:
todo mundo tem que ler
pra se informar e formar!






Mas é uma vida apertada
pro meu salário chegar:
ganhar pouco é uma maçada;
não posso mesmo esbanjar!

E pra casa eu vou a pé,
mesmo sendo um estirão:
mas tenho otimismo e fé,
isso é bom pro coração!

Aqui passa todo dia
verdadeira procissão:
e eu atendo, “mama mia!”
toda essa multidão!

Mas eu trabalho sorrindo,
com todos eu sou gentil:
— Oi Susy, com vai indo,
você é caixa nota mil!

E como é gratificante
ser cortês com os fregueses:
sentir-me bem cada instante
e assim ir passando os meses.

Tenho Deus por grande amigo,
Ele me dá proteção:
e livra-me do perigo
e do caminho malsão!

E assim com o Céu me ajudando
eu sigo esta minha via,
e vivo alegre, cantando,
dando amor à freguesia!

Sou pobre e sei muito bem
que não vou enriquecer;
mas tenho Jesus, Amém!
Mais não preciso querer.





imagens pixbay








8 e 9-14/11/2015