Uma quase vovó
Uma quase vovó, mulher madura
Gosta do que faz, trabalhadora.
Às vezes criança, menina pura,
Menina moça, sonhadora
Outras vezes se depara pensando
Com nostalgia dos tempos de criança
Do passado distante, nem tanto
Aliás, bem presente, nas lembranças.
Faz tempo, muito tempo,
O marido que veio e que voltou
Do seu primeiro rebento
Da dor, que também amou.
Da vontade de amar novamente
Do medo da paixão dominante
De trair o passado com o presente
Trocar o falecido pelo amante.
O tempo na terra que a Vida lhe cedeu
Parece curto, outras vezes demorado
Pergunta-se, será que valeu?
Realizou tudo que tinha sonhado?
Anima-se, rejeitando a idéia da velhice;
Busca forças, no vazio, ou no nada;
Analisa seu estado: a viuvice
Constata: está desemparada.
Recusa-se a sucumbir na vida
Levanta-se disposta do seu ninho.
A solidão que vem da despedida
Não detém a quem sabe o caminho.
A vida sorri pra quem trabalha
Pra quem aos outros se dedica
A felicidade vem e nunca falha
À quem às flores vivifica.