“DESCONSTRUÇÃO”

“DESCONSTRUÇÃO”

Gravou daquela vez

Como se fosse culpa

Beijou a Marieta

Como se fosse a última

E cada filho seu

Como se fosse Zeus

Atravessou a rua

Pra discutir política

Subiu o tom de voz

Mais que o Tiririca

Sentou no seu sofá

Arroto após arroto

Bebeu sua champanhe

Como se fosse um fardo

Cruzou os calcanhares

Com olhos azulados

Da armação dos óculos

Olhou para seu terraço

Frente a paisagem mágica

Comeu seu caviar

Bebeu e soluçou

Entre um e outro trago

Puxou profundamente

Seu cigarro mágico

E arrastou os pés

Como se fosse um cágado

Se esticou no chão

Sobre o tapete mágico

Voou até sua poltrona

Paris primeira classe

Assinou esse contrato

Bem em meio ao tráfego

Amou aquela vez

Como se fosse a última

Beijou sua Maricota

Como se fosse a única

E cada bacuri

Como se fosse pródigo

Atravessou a rua

Com seu charme fresco

Subiu ao apartamento

Como se fosse lógico

Ergueu-se no patamar

A desfrutar os ares

Onda após onda

No Leblon histórico

Os olhos embotados

Como próximo trago

Sentou pra descansar

Como se fosse um cágado

Comeu seu caviar

Como se fosse sábado

Bebeu e arrotou

Com o prazer do mago

Dançou e requebrou

Como se num palco

Tropeçou na linha

Do horizonte compondo

Sua música e flutuou

No como se fosse pássaro

Desceu até o térreo

Feito malandro tímido

E teve um orgasmo

Como se fosse náufrago

Gozou fazendo um verso

Pra faturar o público

Comeu aquela verba

Pra seu filme tímido

Beijou a sua nega

Como se fosse estrela

Ergueu-se de seu sofá

Com um sorriso sórdido

Telefonou ao bar

Para um delivery bárbaro

E flutuou no ar

Até o Planalto gótico

E conseguiu mais verbas

Para seus enteados

E forçou a mão

Na direção do sábado

Por esse pão pra comer

Por esse chão pra dormir

A certidão pra beber

A concessão pra sorrir

Por se deixar respirar

Por se deixar existir

Deus lhe pague

Pela Dom Perignon

A melhor da seara

Faça favor de engolir

Pela fumaça que agrada

Desse cigarro a curtir

Por essa gente pingente

Que a gente curte cair

Deus lhe pague

Pela Thaís carpideira

Pra te dobrar e cuspir

E pelas verbas certeiras

Pra te dopar e cobrir

E pela Dilma fagueira

Com verbas de redimir

Deus lhe pague.

(Para ler ouvindo a canção “Construção” de Chico Buarque).

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 27/12/2015
Reeditado em 27/12/2015
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